25/03/2010

o Chesterfield já vai em três euros e vinte.


Quando o Fade é elevado a Arte.

Thérèse, Alain Cavalier.

"Verdades" e Brillhante, Mendoza*.



Existem aquelas verdades que, ao longo do tempo, se vão incrustando na memória colectiva, como lapas nas rochas (metáfora gratuita da semana, um dia destes estou na Quetzal): O FCP só ganha(va) por causa dos árbitres, o Bouvard et Pecuchet é um dos "melhores livros de sempre", o Dr. House é uma notável série televisiva e muito melhor do que 92% do cinema que por aí se vai fazendo, comer uma cereja depois de beber um tinto é coma alcoólico garantido, e por aí. No cinema, a minha verdade preferida é aquela do Kubrick ser um cineasta frio e cerebral. O mundo parou em Descartes, e ver o cinema de Stanley só com cobertor, cachecol e óculos apoiados na ponta do nariz, numa imersão total de congelamento e cerebralidade. Deixando o cinema de lado por alguns segundos, atrevemo-nos a escrever que vale muito mais a quentura e emoção de uma Jane Campion, ó o ó. Voltando ao cinema, mais concretamente a Peckinpah, a verdade sobre Wild Bunch é esta: filme apenas e só violentíssimo, a aurora do slow motion, a amoralidade das personagens, mexicanos estúpidos. Parece que não há mais nada. Não há, sequer, aquele momento espamoso de tranquilidade e quietude na paz da noite entre Borgnine e Holden, o primeiro envolto num cobertor, o segundo em devaneios da memória, ou a despedida comovente dos "heróis" por entre a turba cantarolante, ou uma das mais fabulosas lições de ritmo dramático na "figura" de um assalto a um comboio. Bem, nem sequer há Robert Ryan, um dos dez ou doze homens mais importantes do século passado. É aquela coisa da câmara lenta, uma caixa de pandora inadvertidamente aberta por Sam, que muito pasto dramático e tenso tem fornecido a retardados mentais televisivos e cinematográficos, e que me parece hoje ( e há um mês também, que foi quando revi o filme) o mais desinteressante e óbvio do filme. Perdão: de um excelente filme. O Dr. House é mesmo muito bom.

Desconheço se Kaleldo (Summer Heat) será uma obra representativa da carreira de Brillante Mendoza, um daqueles nomes que de tempos a tempos é aclamado como "a coisa mais interessante desde a descoberta do fogo", mas não é coisa que me faça perder o sono, ao contrário da renovação do Mariano. Summer Heat é uma estória de telenovela filtrada por uma sensibilidade dolente e repleta de "ambiente", seja pelos inserts dos elementos naturais à David Lynch, seja pela banda-sonora esotérica, um feliz achado que evita as armadilhas do mais básico naturalismo. Não é arty de um realizador desconhecido de um país "esquisito", mas sim uma inteligente obra que, se porventura tivesse nacionalidade portuguesa, seria catalogada de "mainstream" e com direito a publicidade na Sic. Espera-se, então, que Mendonza se torne um nome mais comum nas orações festivaleiras, para ver os apoiantes de hoje a atirarem-lhe pedras no futuro. As filipinas não são más de todo, bem como a comida.

* título que contou com a preciosa ajuda das redacções do Record e do Correio da Manhã. Em troca, foram entregues generosas doses de amendoins.

qualquer dia até se come e se caga em 3d.


Não há um daqueles belos genéricos a que Burton nos habitou, e tudo termina com uma "canção" dos Tokyo Motel que fará as delícias dos ouvintes da Mega FM e do pitedo aos saltos; começa mal, acaba ainda pior, e pelo meio temos direito a um Tim em Repartidor de Finanças mode, a tratar da papelada com ordem, com esmero e com a imaginação de membro da casa real britânica. Não há um único vislumbre de deslumbramento, é de uma planura bocejante, uma Alice sub-6 para os amantes da mais pirosa "magia do cinema", desses que elegem os Senhores dos Pastéis a "melhores filmes de todos os tempos". E para quem acusou o Pitt de ser só maquilhagem no The Curious Case..., é favor meter os olhos no Depp deste filme, cheio de números na manga a denunciar "loucura" . Concordo que seja uma Alice... em tons mais negros, pois os óculos 3d estavam tão porcos (ainda por cima por estarem colocados sob uns normais já de si riscados) que eu só via negrume à minha frente, com um insectozito colorido de vez em quando a saltar do ecrã, e tal, ah...é...é tão giro, o 3d. Bom, não há problema, até porque o único gajo que fez obras-primas foi o Charles Laughton, e o main theme do Elfmann é muito bom, e gostaria de saber o que é que a Anne Hathaway faz com aqueles lábios. Broches?

"ai os anos setenta é que eram...". O Shutter Island é basto bom.


Dá-lhe, Mário Jorge Torres. Dá-lhe nesse revivalismo que transforma em ilha paradisíaca uma década que também teve os Towering Infernos, os Earthquakes, os Supermans, os Poseidons Adventures, o General Spínola e o 11 de Março, o Benfica a ganhar tri-campeonatos, a quincalharia do Star Wars, etc. Dá-lhe. E que deu origem a esse "livro"*, a Caras, a Vip, a Nova Gente e a Ana de alguns cinéfilos, que mal ouvem falar em anos setenta, vão logo vestir as cuecas da avó e barrar-se com manteiga:" Ai, era tão bom...havia tanta liberdade...e...e...os estúdios não mandavam...ahhh!"

* pior só mesmo aquele em que se fica a saber o número de fodas e enrabanços que o Brando sofreu / perpetrou.

03/03/2010

Jafar.


O excelente Jafar Panahi é mais uma vítima daquele regime de macacos. Espera-se, a todo o momento, a solidariedade da redacção do Avante!, do Dr. Louçã, das gajas de meias ás cores e de toda a comunidade cinéfila que exigiu a libertação de Polanski, porque ser preso por ter ido ao cu de uma miúda de treze anos é um atentado à liberdade de expressão.

Não há ninguém que meta as mãos no Von Trier?
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