29/01/2011

ya, meu, já ´tou a ver tudo enevoado.


Ah, a adolescência, essa bonita e maravilhosa etapa da vida onde não beber uma bejeca ou um shotzinho de pontapé na cona pode significar o degredo no seio do "grupo", e em que as jovens e os jovens, para camuflarem as suas inseguranças de banais seres humanos, bebem muito para se livrarem das amarras do inconsciente, mesmo que isso signifique, para a jovem, ser apalpada ou esporrada por metade da população civil inserida na faixa etária dos 15 aos 35 anos. Também há aquele grupo que, numa atitude de difícil interpretação, começa a exprimir-se mais livremente após meio copo de tinto bebido. É tão nice, esta cena. Mais tarde, o grupo de teenagers dividir-se-à entre entre os bêbados de profissão, aqueles que derretem as mulheres, os cães, os gatos, os sinais de trânsito e a televisão quando o Cardozo falha de baliza aberta, e os bêbados artisticos, os sujeitos que destroem ou enaltecem as suas obras com odor etílico. É tão perturbado e auto-destruidor, vejam (por falar nisto, aquela merda do Control, visto recentemente, não perderá pela demora). É nesta sub-divisão de borrachão que se insere Don Birnam ( Ray Milland), um rapaz que, cheio de medo da vida e dos seus desafios, prefere enfrascar-se diariamente, correndo assim sérios riscos de perder os seus "entes queridos", e também o fígado. O the big picture de The Lost Weeekend é isto, a típica estória do desgraçadinho a contas com uma garrafeira dentro da cabeça. Mas uma obra com argumento de Billy Wilder ( o comentador Vasconcelos com passaporte norte-americano, como afirmou alguém nos anos cinquenta, junto a uma fossa séptica) e Charles Brackett, pese embora, aqui, os seus excessivos episódios de DT ( morcegos na parede, ratos, Correio da Manhã inteligente), consegue sempre encontrar pequenos episódios pontilhistas no meio do chumbo, como a deliciosa obsessão do bêbado com os círculos nas mesas feitos pelos copos, ou a acumulação das garrafas de leite junto a uma porta. E o tratamento do preto-e-branco, bem como os ângulos oblíquos da câmara, sugerem algo mais próximo do noir existencial (aquela coisa do destino, parece-me) do que do mero caso da vida de Domingo à tarde. E agora, com licença, vou agarrar numa puta de uma cadeira, numa puta de uma aguardente velha, vou abrir a puta da porta, vou pó caralho do quintal, e vou olhar pó caralho do céu, à espera que a vaca gorda da Betelgeuse expluda de uma vez. É tão fixi ser bêbado aos dezasseis anos.

21/01/2011

"tens a cona cheia de moscas".


Metade de Kinatay desenrola-se na quase completa escuridão. Outros 25% possuem uma carga luminosa ligeiramente superior à do Branca de Neve. E a percentagem restante está recheada de luz e cor, como diria um radialista a anunciar o fogo-de-artifício de Sábado à noite nas festas de Nossa Senhora dos piolhos. Em qualquer das partes, um ponto em comum: o demencial tratamento sonoro, seja par realçar o caos reinante numa Manila atravancada de pessoas, lixo, bugigangas e galinhas, seja para nos guiar, pobres espectadores sem binóculos de visão nocturna, por uma longa e negra viagem e onde muitos bonitos momentos acontecerão, a começar por uma das maiores brochadas dos tempos recentes. E tudo por entre diversas alusões a Jesus Cristo Todo poderoso e o respectivo contraste com a "maldade humana" (nada de novo na frente oriental), noção embutida da velha máxima muito lynchiana de que a "depravação" e a "normalidade" doméstica ocorrem lado a lado ( exemplar último plano). Posto isto, o Brillante que goze muito bem o festim crítico que para aí vai, pois não tardará muito a ser sacudido à vergastada palavrosa por diversos judas (vide Kitano). Ca ganda mamada.

12/01/2011

"racismo" sulista.



Depois da visão distorcida e quase de rajada de três recentes sucessos da técnica "ei, esta câmara ' tá com epilepsia", nada melhor do que retemperar o olhar e o coração com a tranquila e harmónica massagem cinematográfica de Judge Priest, colheita Ford de 1934, um daqueles exemplos supremos de Humanismo sem demasiadas pastilhas açucaradas. Atmosfera sulista, familiar e campesina, com os tão fordianos planos de alpendres e cemitérios, e de gente sentada em alpendres e cemitérios, e com um tribunal filmado como um bar de vagabundos, e negros no papel de coro grego . Will Rogers tem a subtileza melancólica de cinquenta Bill Murrays, e Berton Churchill, afectadissimo como "vilão", tem a melhor tosse da “história do cinema”. Não recomendado a pessoas que vão ao Doc Lisboa à procura de “temas” e do socialmente correcto (Racista! Os negros ou são criados ou deficientes! Racista!). Mais gosto dá referir que este, juntamente com The Quiet Man, era o filme preferido do cineasta.

canal Discovery.


Dentro de aproximadamente cinco biliões de anos, o Sol aumentará consideravelmente de tamanho, transformando-se num Gigante Vermelho, fritando e engolindo Mercúrio, Vénus e possivelmente a Terra. Mais uns biliões de anos e a massa do gigante volta a decrescer, até chegar ao ponto de ser pouco maior que a Terra, uma anã branca, invisível a olho nu a quem na altura ainda tiver olhos. Mais uns biliões de biliões de tempos em cima dos costados e receberá nova designação, uma anã preta, uma prova de que o Sol, quando morre, é para todos. Sem a sua força gravitacional, os planetas e luas que sobrarem andarão perdidos pelo espaço, ao som de Johnny Cash, pondo termo ao outrora designado Sistema Solar. Com a crescente expansão do universo, mais rápida que a velocidade da luz ou mesmo do que a duração de um plano do Tony Scott, o espaço vazio universal será cada vez maior, e a energia necessária para o nascimento de novas estrelas será insuficiente, transformando o céu que todos os dias vemos à noite num manto de escuridão. Passados uns quinquilhões de anos, e as estrelas que restarem, anãs vermelhas (fase degenerada), também elas poucos maiores do que a Terra, eclipsar-se-ão do espaço sideral, dando lugar, durante quadrilhões de anos, ao reinado dos Buracos Negros, aka cérebro do Cavaco, que limparão tudo o que ainda mexer. Sem mais nada a mexer, até os próprios Buracos Negros terão os dias contados, nada mais restando, após o seu fim, do que um vastíssimo espectro escuro, frio, e tão preenchido como os artigos do Domingos Amaral. Muito antes disso, já os supostos seres vivos terão descoberto portas de entrada para outros e supostos universos, que devem existir por aí aos pontapés, onde cada pessoa tem o seu sósia, estando o meu, neste momento, a comer espargos . Posto isto, que sentido faz escrever qualquer manigância sobre a total mediocridade do audiovisual bué da nice de Kick Ass, um dos horrores juvenis do ano passado?

08/01/2011

2010.

1. Mother
2. The Ghost Writer
3. Toy Story 3
4. Lebanon
5. Shirin
6. A Serious Man
7. 24 City
8. Whatever Works
9. Night and Day
10. Irène

The Inception- o folhetim crítico (parte 1)

Estava eu a dormir, quando me tocam à porta. Era o comentador Vasconcelos. Esbaforido. O Jesus vale três Mourinhos. Ofereci-lhe um café, que gentilmente recusou, porque ele é muito simpático. Perguntei-lhe qual a honra da visita, e ele começou desfiar. É o Nolan. O Villas Boas é uma fraude, vai ver. Neste mundo só há lugar par um realizador chico-esperto, e esse só tem um nome: Jaxon Reitman. Esse sim, esse é que merece os elogios de toda uma geração , uma geração que aprecia bom cinema autoristico sem desprimor pela universalidade das emoções. O Hulk é zero. "'Tá bem", disse-lhe. "E que pretende fazer?". Então é assim, vamos entrar num sonho do Nolan, e vamos , no sonho, incutir-lhe a preciosa ideia de ele deixar de fazer filmes cheios de bafio. "Bafio"? Bafio. Aimar= Jesus>>> Mourinho. "'Tá bem. E quem é que vai connosco?". Tenho a equipa lá em baixo. Vou chamá-los. Ei, coiros, entrem!, gritou o agradável comentador, depois de ter aberto a janela encardida. Enquanto ouvíamos os passos nas escadas, perguntou-me se eu já tinha visto naquele dia o A Canção de Lisboa. Disse-lhe que não, que ainda nem tinha comido. Bateram à porta e o comentador foi abrir. O primeiro a entrar foi Caçador Tavaraes, de farda, três cigarros na boca, espingarda a tiracolo, e um boné em que estava escrito "Chamem-me John Huston". Cadé os patos? As Rolas? Os Coelhos? O Assange? Mato tudo. No seu encalço, surgiu Professor Medina Carreira, empunhando um gráfico. Pelos meus cálculos, esta missão tem tantas possibilidades de êxito como Portugal tem de sair do lindo buraco em que está metido. Rezemos, asseverou-nos. Soraia Chaves logo lhe seguiu as pisadas. É a arquitecta de todo o projecto. Funciona com altas matemáticas e números imaginários*, diz-me ao ouvido o comentador. 4+7=Espinho, grita a arquitecta, apenas de lingerie preta vestida, para consternação do Professor, que mais forte ainda rezou, e para deleite do caçador Tavares, que lhe começou a debitar charme e fumo para a sua deliciosa cara. Rebento com o Assange e com todos os violadores de privacidade. Por fim, entraram Freud e Dali, que, segundo o meu convidado inesperado, ali estavam para assegurar que o post não estaria apenas preenchido por idiotas. Bom, agora que estamos todos juntos, é altura de nos ligarmos todos a esta máquina que nos porá a dormir tão bem como um telespectador sóbrio do Dr. House. Vamos escavar até três níveis de sono, e acordaremos quando o Dr. Rui Ramos, daqui por uma hora (dois milhões de anos na escala onírica), entrar por aquela porta e gritar-nos aos ouvidos alguns excertos das cartas de D. Manuel redigidas no exílio. Coiros, liguem-se. 5+6= Bola de Berlim. Assim fizemos, e logo de seguida estávamos a apanhar com uma molha monumental ali para os lados da Fontes Pereira de Melo.To be continued.

* Bill Watterson. Todos os direitos reservados.

"meninos, hoje é dia de amour-fou".



Excepção a todo o Antichrist, o mais repugnante momento cinematográfico do ano transacto foi encontrado por mim já nos momentos finais de Rendez-Vouz. Então é assim: o gajo que se encontra à direita, no fotograma, cospe para a cara da gaja que está deitada na cama, que por sinal é a Binoche. A repugnância não está, obviamente, no acto cuspidor, porque antes cuspir na cara de outra pessoa do que nas ruas deste país, como eu, infelizmente, muitas vezes vejo. O ódio, o nojo, a sacanice da acção está no gesto simbólico de ausência do amor, de puro animalismo sexual, de "ai, ele agora já não a ama, por isso cospe-lhe de forma violenta e...e...o bruto! Porco!". Ó Téchiné, já fodeste? És daqueles que diz "o teu sexo" em vez de "a tua cona"? Mas desde quando é que o Amor não pode ser compatível com cuspidelas, esporradelas, batidelas, facas nas mamas, agrafadores nos colhões, etc? Que putaria de concepção é esta, ó André? Tás a filmar para adolescentes que enfiam o dedito enquanto se agarram ao ursinho de peluche oferecido pelo namorado? Mau, mau. E, como se não bastasse este momento piolhoso, há toda uma narrativa de amour-fou empilhado de clichés até à estratosfera, desde o poetinha incostante e "torturado" (Lambert Wilson- o único sujeito que, para meu conhecimento, trabalhou sob as ordens de Resnais e dos coisos Wachowski) até a episódios regulares de histerismo muito "perturbador", sem esquecer os planos da floresta negra à meia noite repleta de ursos pretos * da Juliette. Que filme. Bom para mulheres que passam metade da vida no Santiago Alquimista e outra metade a masturbarem-se à custa do vómito do magnífico Matt Berninger.

* Bill Watterson. Todos os direitos reservados


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