28/09/2008

gelado #91

1) Na verdade, basta ir aos filmes de Hollywwod, cheios de vilões "neoliberais", os yuppies corretores da bolsa, os inside traders, os que controlam as bolsas de mercadorias, seja do porco ou do sumo de laranja, até com Eddie Murphy, para perceber que esse período de glória do "neoliberalismo" deve ter passado ao lado da imaginação popular a não ser como prefiguração do Mal. Hollywood não fez outra coisa nestes anos de suposto apogeu "neoliberal" senão dar-nos Tio Patinhas cada vez piores. José Pacheco Pereira, Público, 20/09/2008.

Cardeal Pacheco e a candura de um cordeirinho. Relembro a José o que uma vez escreveu outro José, de nome Vilhena, o maior caricaturista nacional depois de Bordalo, director e ditador (como se auto-intitulava) de pasquins contra-informativos, tais como Gaiola Aberta, Cavaco, ou o Fala Barato: as telenovelas, com os seus vilões costumeiros na pele de ricos e poderosos, e o bem e o final feliz sempre reservado para os pobres de espírito e para os honestos, arquitectavam uma doce maneira de iludir o povo de que eles, no final, acabam sempre por pagar; na vida real, como se sabe, os primeiros comem lagosta suada ao pequeno almoço (e também papaia) e o segundo empaturra-se de latas de conserva num jantar de gala. Uma subtil forma de aplacar a ira do Zé. Os "neoliberais" de Hollywood, monstros de ambição e de ganância e que no final pagam as devidas favas (ai não que não pagam), são depois os "neoliberais "da vida real que arrecadam os seus milhõezitos como resultado de terem encenado numa tela de cinema a sua própria "malvadez". Dorme, Pereira, dorme, dorme, dorme, meu menino, dorme, dorme...

2) Quando acendo um cigarro, olham para mim como se fosse um estrangulador de bebés. Quando é que isto vai acabar? Só ainda estou neste esqueleto para chatear todos esses filhos da mãe. Frase apanhada há dias no Hollywood, proferida por um velho numa cadeira de rodas, numa obra de John Sayles da qual não sei o nome. Entretanto, este post está a ser redigido com mais um estrangulamento de um bebé. Filhos da mãe.

3) Por exemplo, o verso da canção do curso de Sistemas de Informática "Viemos aqui para vos enrabar/com muita pujança vos vamos calar" não escapou à limpeza linguística. Passou a: "Viemos aqui para vos humilhar". Público de ontem, sobre o enriquecimento da língua e a eliminação de brejeirice nas praxes universitárias. Há momentos, quer eu queira quer não, em que não consigo resistir à suave tentação de me imaginar na pele de uma das personagens mais , digamos, susceptíveis ao uso de certas ferramentas, pertencentes ao universo de Takashi Miike. Se se queixassem, eu responderia com a lei: estou a integrar-vos.

4) Hoje na praia: um casal de meia idade em actividades sexuais num buraco no interior de um muro. Uma salutar fusão do género Edgar Allan Poe com os úteis conselhos de ecitação perpetrados pela revista Happy.
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