Gion no shimai inicia-se com um longo travelling por entre um frenético leilão de peças várias no interior de um edifício. Em dois minutos ficam estabelecidos, de forma simbólica, os valores da transacção humana, perdão, comercial, e do sentimento de posse que irão perspassar pelo resto do filme. Há quem não se resigne a esta condição de produto, e tente fazer da astúcia e do encanto feminino armas de ascensão (ver foto). Um mundo povoado de figuras masculinas ora corruptas, ora patéticas, quando não as duas; só se combate o sistema patriarcal com as devidas doses de oportunismo. E por entre diálogos sussurrados e uma superfície de calmaria, Mizoguchi (ao pé dele somos todos mortais, amén) construiu uma das mais violentas obras artísticas do século XX.