13/10/2008

gelado #110

Uma das maneiras de desqualificar a opinião (mesmo que fundamentada) do outro sobre a cultura do sucesso é a tirada clássica tens é inveja. Diz-se que ter inveja dos êxitos alheios é um clássico português. Não o será menos, contudo, que afirmar que o pensamento de alguém é apenas movido a lenha da mesquinhez invejosa. O Pedro Rolo Duarte não gostou que o Luis Rainha não tivesse apreciado devidamente (seja lá o que isto queira dizer) o primeiro episódio da nova série dos Gato Fedorento, e tratou de o acusar do pecado mortal. Santa Bárbara, o pecado, a infâmia, a maior prova da fraqueza de espírito, não gostar dos actuais Gato Fedorento, que pelo que vi nestas duas primeiras emissões do Zé Carlos, ainda conseguem estar em pior forma do que no anterior programa da RTP. Breve cronologia: tiveram duas séries brilhantes (Fonseca e Meireles) na Sic Radical, a terceira (Barbosa) já descia ligeiramente de nível, mas ainda permanecia muito boa, na RTP iniciaram-se com Lopes da Silva, alternando notáveis delírios burlescos com mediocridades sensaboronas. Diz que é uma espécie de Magazine, também na televisão pública, alterava o formato de sketch puramente absurdo, sem referências precisas, para dar lugar a uma caricatura da realidade portuguesa, muitas vezes sucumbindo ao humor engraçadinho, a que não seria alheio a presença do bovino público na audiência. Entraram em spots publicitários indignos de um João Baião, tendo o menor denominador comum como objectivo. O novo trabalho é um remake noutro canal do Diz que é.... E aquilo que era humor abrasivo, desconstrucção da própria linguagem, como referiu uma vez o RAP, exponenciação ridícula dos mais banais actos quotidianos, deu lugar a uma revista à portuguesa mais sofisticada, um contra-informação em carne e osso. E depois enaltecem-lhes a "coragem" por se meterem com "prestigiadas" entidades nacionais. Epá, por mais coragem que mostrem, se aquilo não activar os processamentos físicos que me permitem rir, então a coragem que vá bardamerda. Uma instituição nacional, é o que eles são no momento, tal como o foi o Herman durante muitos anos, com a cristalização criativa daí resultante. Felizmente, parece que decidiram abandonar a tv após este programa. Boa sorte, e obrigado, entre outros, pelo "Gajo de Alfama", o "shôr vitor", o "primeiro ministro com dupla personalidade", o "atum", o "telejornal popular", "soldados cobardolas", "cidadão revoltado", "brigada anti-droga", e a que para mim é a sua obra-prima, "Vida e Obra do Doutor Vitor Fonseca, médico, escritor, professor de macramé".
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