16/10/2008

gelado #114


Les Bonnes femmes, de Claude Chabrol, é um supremo exemplo daquele tipo de obras em que algo se parte no seu interior, levando a narrativa para lugares e figurações de que estávamos tanto à espera como de ver o Eduardo Pitta a almoçar numa tasca. Os últimos quinze, vinte minutos desenvolvem-se sob uma tensão sufocante: um simples gesto de uma mão a aproximar-se da outra, ou uma subtil alteração na face são motivos suficientes para instalar o thriller (em regime económico), no que antes era um retrato modorrento de jovens burgueses e jovens burguesas mais os seus jogos florais na belle Paris (penso que isto está incorrecto, mas eu já vi o filme há cinco meses). E não deixa de ser curioso que Chabrol desenhe a segurança na cidade, para transferir a ameaça e o castigo (sim, senhora, c-a-s-t-i-g-o) para os bosques campesinos, filmados muito de acordo com aquela expressão inglesa, sense of wondrous; curioso como quem diz, pois este homem quase sempre viu horrores na ruralidade. É um filme para merecer uma segunda visão, pois tudo aquilo que acháramos supérfluo e fútil na primeira parte, adquire o seu pleno significado após terminar a segunda . Entra a Bernardette Lafont.
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