19/10/2008

gelado #116

I always have the feeling that the men who started religions were more open-minded than their followers and the institutions that determined how the words would be followed. Peter Gabriel

Aquando dos cinquenta anos da Cinemateca, passaram na RTP, no seu telejornal nocturno, imagens do pandemónio que se apoderou do público na estreia portuguesa de Je Vous Salue, Marie, de JLG. A imagem televisiva não dava para discernir grande coisa, a não ser o horroroso guarda-roupa lusitano em 80's, os bigodes, um coro a repetir Fascistas! Fascistas! em loop, e uma senhora, no canto inferior esquerdo do ecrã, empunhando uma cruz com alho na direcção da tela*. Sobre isto, não tenho mais nada a escrever, a não ser que apoio qualquer acção ou medida que chateie e perturbe a corja de beatos e beatas, e num grau superior, o Prof. César das Neves. Três ou quatro anos depois estreou The Last Temptation of the Christ, e novamente a corja exaltou-se com grande alarido, escandalizada com a mácula largada em cima do Senhor. Testemunhas credíveis relataram que a senhora da cruz com alho percorreu todas as salas de cinema do país onde o filme estivesse a ser exibido. Desejos de pragas egípcias foram lançados a Scorsese, que se tornou persona non-grata em antros de buços, vinho, xailes negros e caras ruborizadas do país, perdão, em paróquias nacionais. E sobre isto nada mais acrescento, a não ser que concordo com o mais mesquinho e despropositado movimento que provoque a ira da cambada de devotos fanáticos, ou num nível acima, do Dr. João Neves. Lembrei-me disto tudo porque ando a ouvir de há uma semana para cá a banda-sonora da obra de Martin. Da responsabilidade de Peter Gabriel, músico do qual a minha opinião é nenhuma, apesar de ter um disco dos Genesis, ouvido uma vez e com diligência esquecido uns segundos depois. Percurssões, guitarradas, electrónicas, ambientalismos, ritmos de época, e eu gostaria de esclarecer mais qualquer coisa sobre a relação entre estas cambiantes musicais, mas acabo de reparar que no meu Bilhete de Identidade não está lá nenhum Luís Maio ou João Bonifácio. Apenas escrever que, se o filme questiona a verdade oficial da história de Jesus Cristo, nada mais apropriado de que a sua música seja suficientemente pagã para dessacralizar ainda mais uma narrativa de dois milénios. O "Mission Acomplished" é musicado com sinetas e (matem-nos! atirem-nos pá fogueira!) bateria e guitarra eléctrica. Amen, gosto muito. E sobre isto nada mais há a divulgar, a não ser que...

* acabo de descobrir que há um vídeo no you tube que mostra o evento. A senhora só é visível se o leitor fechar os olhos.
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