03/10/2008

gelado #97

Um dos costumeiros ataques da direita à esquerda é a acusação da primeira de que a segunda defende o politicamente correcto. Parece haver um pânico generalizado, no espectro direitista, com a correcção política. Bastaria ter em consideração a volutibilidade da noção "politicamente correcto", que varia conforme os contextos espaço e tempo, para aquele argumento cair que nem dominó num café ali perto da Avenida dos Combatentes onde dois velhinhos se juntam todos os fins de semana a jogar a sua partida por entre imperiais e caracóis e as patroas que se fodam. Mas, fazendo o favor aos reaccionários dos costumes, e no que toca ao assunto casamento homossexual, gostaria de saber o que há de mais politicamente correcto numa sociedade do que o casamento na santa igrejinha, com a noivinha de branco e o esposo de preto, com o Bom Jesus a presidir à união, com os convidados quase todos de roupinha nova e muito bonita (estou-me a rir tanto, inclusive de mim próprio), o almoço com os infernais toques nos pratos e o inevitável leitão, o copo de água onde se enfardam mil comidas e em que se leva ainda alguma para casa, as toneladas de fotografias, o "filme" para recordar, o catastrófico bailarico e o repugnante karaoke, etc. Sim senhor (a), ora aí está uma descrição do subversivo e do underground social, que terror politicamente incorrecto. Em conclusão, este blogue é contra a instituição casamento, hetero ou homossexual, mas como o autor deste blogue nem em nele sabe mandar muito bem, quanto mais nas leis da sociedade, conclui, igualmente, que se tem de haver o santo matrimónio, ele deverá estar aberto a todos, também aos cinéfilos. "Pilar da sociedade". "Valores". Estou-me a rir tanto, a começar por mim.
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