06/11/2008

gelado #128


Existem filmes, como lugares, em que o mais aconselhável é não voltar a encontrá-los. Corre-se o risco de memórias graciosas (lindo) se diluírem em parcas desilusões (lindíssimo, já posso editar pela Oficina do Livro) no momento do reencontro. An American Werewolf in London, de John Landis, povoava até há poucos dias o meu cérebro de palavras como "medo", "terror", "Sapunaru", e "choque", fruto da sua primeira, e única visão, ter ocorrido algures numa noite de Sábado de 1986 ou 1987, época em que a coisa mais assustadora que me podia acontecer era perder um episódio do Bocas. Há um par de dias regressei ao local do BPN, do crime, e refastelei-me na total indiferença perante o que via. Excepção feita à primeira sequência, na ruralidade inglesa, onde se constrói com êxito um ambiência de opostos (gajos americanos urbanos vs paisagens fantasmagóricas e misticismos locais ingleses), o resto do filme é uma salganhada de géneros (comédia, terror, filme romântico) em que nada bate certo, não havendo nem a gravidade do horror movie nem a coragem suficiente para transformar tudo aquilo em caricatura burlesca (como fez o Jackson de Braindead). Sim, sim, e depois há a metáfora das "dores de crescimento juvenil" (numa cena que continua sem rugas, ao fim de vinte e sete anos): alguém sempre pode pegar por aí, para lhe atribuir "complexidade". Há crónicas jornaleiras e blogs neo-liberais que me assustam muito mais. E lá vão vinte anos de memórias afectivas (a sério: só preciso de fazer um qualificado broche ao editor) para o galheto.
Related Posts with Thumbnails