23/11/2008

gelado #140


Perdido entre esbatidas tonalidades verde-tropa, entre rigidez gestual e retórica, entre a frieza maquinal de uma sociedade sem nome, um momento sublime de calor: a preparação de uma refeição canina. Nada mais do que isso e tudo o mais do que isso, e a reconfirmação de que basta colocarem uns planos de pormenor de comida e mãos na comida num filme para eu lhe perdoar todas as falibilidades, indigências e demais Sapunarices. O realizador japonês Mamoru Oshii, conhecido para lá dos Himalaias por Ghost in the Shell, filme de culto para a era da nerdolândia, abandonou a animação mas não o fascínio pelas intersecções invisíveis entre realidade e virtualidade, até um tal ponto que no fim de Avalon o espectador vê-se obrigado a repetir a mesma pergunta efectuada no último plano de eXistenZ. Até lá, há a registar a coerência de um tom, sempre na corda bomba entre o sonâmbulo e o misticismo new wave, puxado pela alavanca da música etérea de Kenji Kawai. Não irrita nem deslumbra, volta a pisar terreno conhecido, a procura de Humanidade num mundo hostil e repleto de zombies metropolianos, mas chega e sobra para valer cerca de 104,4 Matrixs, como a minha insuspeita balança acaba de confirmar. E tem uns belíssimos lombos de porco.

*****- Fabuloso. Ludivine Sagnier, Scott Walker e sardinha de Portimão.
****- Muito Bom. Gene Tierney e caranguejo com cerveja Sagres de um litro.
***- Bom. Rojões à minhota em dia de chuva.
**- Razoável. Fast-Food em dia sem tempo mais Zizek sóbrio.
*- Medíocre. Conversa de café entre José Manuel Fernandes e João Marcelino.
0- Fusão genético-molecular entre Comentador Vasconcelos, Rui Ramos, Sapunaru e Eduardo Madeira.
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