Na Grandiosa História do Cinema e também dos filmes, The River deveria ocupar um lugar cimeiro, possivelmente entre o 12º e o 54º; na não menos rica Grandiosa História do Cinema de Tusa, então, o primeiro lugar não será escandaloso de lhe atribuir, e sim, estou a incluir o Saló nesta imaginária contagem. Toda a cena a que esse fotograma pertence é um primor de sensual erotismo, tão boa que mesmo em pleno Inverno recomenda-se a sua visão acompanhada de um balde cheio de água gelada bem ao lado do pervertido leitor, e já que estou numa de frutuosos conselhos, também lhe digo, cara leitora semi-nua, que estes breve minutos vão fazer mais por si e pela sua triste relação com o seu amante/esposo/chulo do que todas as dicas hottie perpetradas pela merda da Happy. Frank Borzage, um homem romântico, realizou uma história de iniciação sexual e amorosa envolta em terreno panteísta, um decor de beleza irreal onde a crueldade (feminina, neste caso) e a repressão de sentimentos são uma resposta perfeita às mui lindas paisagens (todas de estúdio). Um corvo serve como espantoso símbolo de vigia, com Borzage a incidir sobre ele alguns planos que mais parecem saídos da escola dos surrealistas. Aliás, não parece existir um único plano desaproveitado, nenhum que não encerre em si toda uma importância singular, embora importante para o todo (não sei muito bem como explicar isto, mas parece-me que assim está bem, embora também possa estar mal. Ou assim-assim. Quê? Já vou.) desta completa obra-prima mesmo que incompleta e semi-destruída, pois o início, uma parte do meio e o fim estão perdidos algures, substituídos por fotogramas e inter-títulos que elucidam a narrativa, um procedimento explicativo que ainda consegue encharcar de maior lirismo e mistério uma obra, sem dúvida, poética, sem fazer poesiazinha de cosmética. Rosseau e Fiodor chorariam, disso não tenho eu a mais pequena certeza.
*****- Fabuloso. Ludivine Sagnier, Scott Walker e sardinha de Portimão.
****- Muito Bom. Gene Tierney e caranguejo com cerveja Sagres de um litro.
***- Bom. Rojões à minhota em dia de chuva.
**- Razoável. Fast-Food em dia sem tempo mais Zizek sóbrio.
*- Medíocre. Conversa de café entre José Manuel Fernandes e João Marcelino.
0- Fusão genético-molecular entre Comentador Vasconcelos, Rui Ramos, Sapunaru e Eduardo Madeira.