Por aqui persiste-se nos caminhos cinematográficos da Checoslováquia de antanho, desta vez com um autor bem mais prosaico do que Chytilová: Milos Forman. Em comum com a senhora há a rebelião contra as instituições e o carinho pela transgressão, que em Milos tanto já deu para uns suculentos Larry Flint e Man On The Moon como para uns ridículos pedregulhos à la Hair e Goya (Amadeus está a meio caminho, e nunca vi aquele com o Nicholson). Fireman's Ball é uma deliciosa sátira à burocracia de betão dos camaradas, utilizando-se o microcosmos da preparação e realização de um baile de bombeiros com o objectivo de desacralizar a palhaçada e o absurdo do poder, onde frequentes contratempos vão arrasando a conta-gotas a "meticulosa" organização com...dos bombeiros. O patusco e o picaresco nada querem com a caricatura grosseira, e o aproveitamento de actores amadores, alguns dos quais eles próprios soldados da paz, transmitem um forte sentido de verisimilitude e vertente documental às peripécias da narrativa. Para não variar, The Fireman's Ball não foi visto com bons olhos pelos camaradas, que obrigaram Forman a alimentar-se exclusivamente a uma côdea de pão por dia durante dois meses; farto de côdea, emigraria pouco depois para Hollywood, onde ainda hoje ao pequeno-almoço ingere salmão fumado.