Stan Brakhage foi um radiografista de praticamente toda a actividade acima e abaixo do solo, expressa em quase quatro centenas de filmes , que embora não muito expressa, constituíram influência de relevo em alguma da linguagem do actual mainstream, desde a montagem corta-e-cola (o genérico do Se7en é puro e duro Brakhage) até uma série de outras coisas que o meu advogado não me aconselha a referir. Em 1958, com apenas vinte e cinco anos, Stan decidiu enviar noções esclerosadas como pudor, vergonha e decência para debaixo da almofada e tratou de filmar ( a cor) um acto único, aliás, o primeiro acto da existência humana, CEO'S incluídos: o nascimento da sua filha, na sua própria casa. Window Water Baby Moving é um título literal, um resumo de uma série de planos retalhados e entrecortados de uma janela banhada pela luz solar+planos de água da banheira+planos de um bebé a nascer, em todo o seu esplendor e clareza possíveis, a câmara praticamente enfiada num sítio que deixaria César das Neves e também a minha avó à beira da apoplexia. Com a inteligência que Deus Nosso Senhor lhe providenciou, o cineasta eliminou qualquer chispa de som, tornando esta curta-metragem menos visceral do que embasbacadamente hipnótica. Um óptimo filme, que também poderá servir para preparar qualquer pai demasiado sensível e medricas para o parto da sua mulher (ou homem, que eu já não digo mais nada).
*****- Fabuloso. Ludivine Sagnier, Scott Walker e sardinha de Portimão.
****- Muito Bom. Gene Tierney e caranguejo com cerveja Sagres de um litro.
***- Bom. Rojões à minhota em dia de chuva.
**- Razoável. Fast-Food em dia sem tempo mais Zizek sóbrio.
*- Medíocre. Conversa de café entre José Manuel Fernandes e João Marcelino.
0- Fusão genético-molecular entre Comentador Vasconcelos, Rui Ramos, Sapunaru e Eduardo Madeira.