05/01/2009

gelado #185


Há um portento de chiaroescuro (parece que todos os noirs se encontram neste plano), há uma maravilha de enquadramento, mas o que mais impressiona no plano final de The Big Combo é a sua vertente púdica e a alusão a uma elipse, cuja consequência jamais será conhecida pelo espectador. No primeiro caso, depois da tensão amorosa/sexual acumulada durante todo o filme entre Cornel Wilde e Jean Wallace, esperar-se-ia, segundo os cânones, ou a tragédia ou o beijo, mas Joseph H. Lewis e argumentistas optaram por outra via, muito mais poética e serena: o caminho a dois, sem haver contacto, rumo ao nevoeiro, uma projecção num futuro cheio de incertezas, que isto não é dramazinho e todos viveram felizes para sempre. Não há morte do mau que possa salvaguardar a segurança dos tempos que aí vêm; há quem chame a isto cinismo, outros realismo, e outros ainda a vidinha de todos os dias. Um final realista, ou metaforicamente realista, ou o que lhe quiserem chamar, para uma obra onde o sentido de justiça apenas dá lugar a uma, aparente, contemplativa resignação. Não é por acaso que Lewis filma tudo isto com plano fixo.
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