Todos os crimes cinematográficos deveriam ocorrer como o da sequência prisional de La Mariée était en noir. Antecipa-se um crime não pela recusa da rotina quotidiana da cadeia, com as suas sopas e comidas entregues, mas precisamente o contrário: é o detalhe da acção banal, do som banal, que vai instaurando a dúvida e a pele de galinha na cabeça, nos ombros e no maxilar esquerdo do espectador. Sem pressa e sem precipitações, a câmara lá vai seguindo os guardas na sua tarefa, até que surge o plano com um careca. Fazemos a conta de somar e dois+dois=quatro; apenas imagens a contar uma estória. O fora de campo, então, apenas confirma que já não precisamos de ver mais nada, pois o crime já tinha acontecido na nossa mente um minuto antes. Um momento anti-século XXI.