23/01/2009

gelado #203


More shadows, you sons of bitches!

Val Lewton.

Estaria tentado a escrever que todos os filmes de terror deveriam ser como The Seventh Victim, mas depois lembro-me que também aprecio, para grande preocupação do médico pessoal que não tenho, de uma boa pratada de gore com uma subtileza tão subtil que para a encontrar é necessário recorrer ao uso de uns óculos especiais apenas disponíveis numa ocularia ali na Rua da Graça e alguém que me faça parar de escrever porque senão conto aquela vez em que (censurado). Portanto, uma situação muito semelhante com a doentia superfície desta obra de Val Lewton (produtor-autor como poucos), que encarregou o capataz Mark Robson de ser o seu homem no terreno. Em esparsos setenta minutos e com uma dezena de personagens, o horror de The Seventh Victim não provém de cenas-chave associadas habitualmente ao género, mas sim da desolação interior de algumas personagens que o habitam em estreita relação com os espaços vazios do décor urbano, características bem mais próximas do film noir, por mais sobrenatural (embora sugerido e predominantemente psicológico) que exista por lá. Um filme onde a malaise e o cinismo acabam finalmente por vencer as résteas de esperança depositadas num poeta-detective e numa jovem moça, pirilampozitos ao redor de uma escuridão total. E como isto é Lewton vintage, convém relevar um espantoso plano numa casa de banho, trabalhado com a velhinha e sempre eficaz sombra; é como se a "Mãe", em vez de a espatifar, se pusesse a falar com Marion Crane do outro lado da cortina.
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