12/02/2009

gelado #215


Tenho andado a vasculhar na estante os dvds da Série Y, editada pelo Público há meia dúzia de anos; um porradão deles ainda continua com o celofane, outros estão à procura de comprador (ebay, para mim, é dialecto zairense). Um dos que continuava com o plástico era No Man's Land, obra que deu algum brado em 2001/2002, tanto brado que até viria a ganhar o boneco dourado para melhor filme estrangeiro na festa da celebração da história do cinema. O filme de Danis Tanovic não tem culpa nenhuma de ter caído em tão desgraçadas mãos, isto porque, segundo o meu veredicto dictatorial, é um belo trabalho. Sérvios, bósnios, jornalistas, comandantes das forças internacionais de paz: cada grupo tem o seu quinhão de desprezo por parte do autor, restando as migalhas de simpatia para com um grupo de soldados da ONU, os únicos com vestígios de lucidez humanista. Num filme catalogado como comédia negra, a própria nunca parte de qualquer desejo caricatural das personagens ou por non-sense desbragado (os irmãos Marx afogar-se-iam com este material altamente inflamável), antes pelo absurdo inerente e trágico provocado por uma situação limite, que além do mais instaura um suspense agoniante por todo o filme. Para o registo ficam dois momentos: um soldado ferido e abandonado numa trincheira e cuja primeira acção depois de se ver em tal aperto é tentar fumar um cigarro (à atenção do Dr. Pádua); um plano de um soldado morto captado pela câmara televisiva e contracampo da régie, com os "jornalistas" em silencioso delírio. Pouca crueldade de Danis, até porque continuo convencido que toda a redacção de um canal de televisão se começa a masturbar quando para o ar surgem notícias de quatro mil mortos num terramoto, incêndio dantesco em Vila Nova de Anços, ou uma velhinha que foi degolada por um meliante numa aldeia algures no interior.
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