Platform, de Jia Zhang Ke, para além de poder arrepiar um anti-tabagista (muito se fuma nos filmes de Jia, uma saudável excepção ao Processo de Higienização em Curso (PEC)), é bem capaz de provocar arritmias a qualquer jornalista, comentador ou cineasta do audiovisual. Os acontecimentos desenrolam-se segundo os princípios da paciência de Job, não existem anzóis narrativos à porta entreaberta, as personagens, na generalidade, estão esmagadas pela vastidão da paisagem, numa sucessão de planos gerais que não as aproximam dos nossos coraçõezinhos melosos. As transições temporais (de anos) não são sinalizadas, e onde entre o abrir e o fechar de uma porta podem ter passado mil dias. A elipse e o fora de campo são estlilismos utilizados amiúde, amplificando a recusa de identificação calorosa com a trama. Para desentorpecer desta magnífica monstruosidade do distanciamento, comecei a ver um tal de Prime, que veio no jornal do Marcelino, e que conta com a Thurman, a Streep e uma "realização competente": ao fim de vinte minutos de "muito boas performances", já tinha os vómitos a assolar à boca. Ler os seguintes escritos com a voz do Dr. Salazar nos seus famosos discursos para a pátria no Terreiro do Paço: Portugueses, um filme tem de ter princípio, meio e fim, e sempre por esta ordem, não dando vós ouvidos ao indivíduo Mourinha, que tratou de descobrir uma caluniosa fenda na relação espaço-tempo, ao escrever que um filme acaba antes de começar. Portugueses, regra número dois: Tem de haver uma identificação absoluta e sem falhas entre o espectador e a ou as personagens. Portugueses, regra número três: respeitai solenemente as regras anteriores, a bem de vós e dos vossos entes queridos. Portugueses, para Angola e em força!