Let's face it, he's a cripple. Basta uma súbita alteração no olhar para que Gene Tierney pareça ter envelhecido uns bons anos não só em relação a Laura, do ano anterior, mas também em relação à primeira meia-hora de Leave Her to Heaven, onde as já evidentes zonas de sombras não apagavam a radiosidade angelical da sua presença; esse fotograma alude ao momento da viragem definitiva, à explanação do que antes era mera névoa de pressentimentos ("LOL"). Não entendo como este sublime John M. Stahl pode ser enxotado, mesmo que em termos elogiosos, para os campos do kitsch e do camp (ah, deve ser o Technicolor, é isso...), quando o melodrama é pontuado por um gesto minimalista, apesar de Tierney a cavalgar (it goes to eleven, na escala do erotismo), apesar do último acto em que Vincent Price (o comentador Vasconcelos exige a dobragem de todos os filmes, nunca se esqueçam disso) atinge o olimpo do overacting, só lhe faltando cuspir lava para cima dos seus inquiridos. Realço a ausência de música em grande parte do filme ou a forma como o cineasta avança com êxito pelos terrenos armadilhados do suspense, sobretudo em duas cenas de um absoluto controle do tempo dramático e da posição da câmara; a sequência do lago é um doutoramento em economia. Demos graças, então, pelo velhaco do Hays não ter percepcionado entre as linhas uma palavra: incesto.