Depois de uma brilhante carreira dedicada aos filmes "mudos", o portista Aki Kaurismaki decidiu mesmo realizar um filme mudo, baseado no conto finlandês Juha, e com a participação de alguns dos seus actores de sempre, como Kati Outinen ou Sakari Kuosmanen, a mesma dupla de Nuvens Passageiras. Uma espécie de Sunrise em que é a mulher campesina a ser levada pelo urbano canto da sereia, tem a simplicidade dos arquétipos e o habitual humor anti-histérico do cineasta, mas, desgraçadamente, possui uma sinfonia rock intrusiva como acompanhamento e não está sequer a cerca de vinte e sete mil milhas marítimas dos seus melhores trabalhos. Isto parece-me chuva no molhado, pois as personagens, a montagem e os décors de Kaurismaki já são regados a quietude e impassibilidade, sem que para tal tenha de existir a ajuda da muleta do mudo, numa tentativa forçadíssima de impor uma ideia que já tínhamos percebido muito tempo antes. E, mesmo com a atenuante do "mudo", nunca Aki foi tão genérico e óbvio na sua dramaturgia. Mil vezes só o concerto das máquinas dos fósforos no genérico de The Match Factory Girl. Deve estar no norte, a beber vinhaça.