22/04/2009

agora todos juntos, de mão dada e em círculo (sem rir): "o tempo destrói tudo!"


Antepassadas inanidades có(s)micas no cinema2000:

-Grosseiro e maneirista filme de Gaspar Noé,realizador que se tem vindo a especializar em "filmes-chocantes".É um filme que irrita do primeiro ao último minuto.O caos emocional é estudado ao pormenor;tudo está cuidadosamente encenado,desembocando num todo ultra-pretensioso.É o estilo pelo estilo.A cena da violação provoca bocejos.Este filme assemelha-se àquelas maças bonitas e perfeitas por fora,mas com um conteúdo pobríssimo,podre,e a cheirar mal.Dá vontade de rebentar em insultos contra este filme.Mas n podemos cair na grosseria do senhor Noé...


Tiago Ribeiro 16/12/2002

A indignação com o que tinha acabado de ver era de tal ordem que a língua portuguesa apanhou por tabela, originando, até, o envio de um prestável e-mail por parte de um senhor versado em Camões, alertando-me para a existência da palavra "paupérrimo". Desde essa noite chuvosa (as noites, na literatura, são geralmente chuvosas; ventosas ocasionalmente, estelares raramente, solares nunca. Quando alguém começa uma frase com "Desde essa noite..." há 72% de possibilidades de ela ter sido chuvosa, mesmo que se esteja a descrever um episódio passado no Sahara. A verdade é que eu vi o filme numa tarde solarenga ( as tardes, na literatura, são geralmente...)) de Dezembro de 2002 que eu não atravancava o meu agastado olhar com as aventuras do senhor Noé nos domínios da "irreversibilidade". Graças à preciosa dvdteca fornecida pelo jornal do Marcelino, lá voltei a sujeitar-me ao dito dislate fílmico, antevendo desde logo o infinito escorrer de espuma pela boca. Mas dizem que a idade vai aplacando ódios e demais manifestações de diatribes (o que não é bem verdade: conheço uns quantos filhos de uma grandessíssima saca de putas que mereceriam levar com um extintor por aquelas cornaduras acima, seus filhos da puta fanáticos do caralho), e o que há sete anos foi motivo de profunda raiva foi há poucos dias razão para umas boas gargalhadas e sono à espreita. Começando pelo fim, a melhor coisinha: o genérico; estamos conversados. Depois, a hilaridade: dois rabetas com uma algarviada filosófica do reader's digest, mais paneleiragem explícita num bar apropriadamente chamado de "rectum", tudo delicadamente encafoado numa estética cinético-parkinsoniana, e com o som de baixa fidelidade a sugerir, segundo as palavras do Gaspar, "a desorientação do espectador"; eu, por mim, fico mais desorientado psicologicamente quando vejo o Guarin a dar um toque numa bola. Este histerismo formal, se na primeira vez ainda pode impressionar (positiva ou negativamente), numa outra visão é acção em ponto morto, que nem o grafismo da cena do extintor e a da "célebre" violação da Mónica conseguem atenuar. A partir da enrabadela, então, é o definitivo estouro do balão: a ligeiríssima tensão que Noé fabricou naqueles primeiros vinte minutos esvazia-se por completo, com uma progressiva suavização dramática, até acabar na mais insuportável das chantagens emocionais, a paz no mundo de Belucci e do seu filho (ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...) ao som de Beethoven (alerta de caução). Fez-me lembrar o Psycho do Van Sant, em que, após o assassinato de Marion Crane, ficava-se com um saco cheio de nada e outro cheio de coisa nenhuma, precisamente o oposto do que acontecia no original. Mas nem tudo é negativo, pois a carga odiosa que antes sentia contra esta obra já foi curada com o tempo, pois o "tempo destrói tudo". Vai em paz, Irréversible. Ora deixa cá ver onde é que está o Dogville...
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