Felizmente, nem só de vómitos e espiritualismos viveu a carreira de William Friedkin. Recorda-se aqui um dos seus melhores trabalhos, To Live and Die in L.A, policial musculado em que os polícias são tão corruptos quanto os criminosos e onde o beijo da morte é quase sempre desferido com uma bala nas fuças (anos oitenta e os seus Patrick Batemans, etc.). Obra por vezes graciosamente datada, com uma banda sonora de Wang Chung a transbordar de melodias da época, com a voz off de Ronald Reagan a sinalizar o ar do tempo logo na primeira sequência, e uma artesanal perseguição de automóvel que já não se faz, realizada à base de Stuntman Mikes entretanto desaparecidos. O all-power macho de William Petersen (visto a última vez a vender o coiro em csi's) e do comparsa John Pankow, a submissa carne para canhão feminina (muito levam elas neste filme, e quando não estão a levar estão a ser fodidas, e quando não estão a ser fodidas, servem como meros joguetes em jogos sujos), e entre estas regras de género bem delineadas a androgenia de William Dafoe, um artista da contrafacção, um Andy Warhol ainda mais oportunista mas sem a mesma legitimação cultural. Nesta Los Angeles desprovida de glamour e anjos, documentada por Robby Muller, só há uma certeza: não há nenhuma personagem que não esteja a fazer pela vida. Não há, sequer, lugar a uma tão cara e elogiada ambiguidade, não senhor, pois para Friedkin, neste mundo decadente, só cabem víboras. Nenhuma novidade no âmbito das transacções comerciais. Segue mais um tiro nos olhos.
Temos homem
Há 11 horas