27/04/2009

ainda se fazem policiais?


Felizmente, nem só de vómitos e espiritualismos viveu a carreira de William Friedkin. Recorda-se aqui um dos seus melhores trabalhos, To Live and Die in L.A, policial musculado em que os polícias são tão corruptos quanto os criminosos e onde o beijo da morte é quase sempre desferido com uma bala nas fuças (anos oitenta e os seus Patrick Batemans, etc.). Obra por vezes graciosamente datada, com uma banda sonora de Wang Chung a transbordar de melodias da época, com a voz off de Ronald Reagan a sinalizar o ar do tempo logo na primeira sequência, e uma artesanal perseguição de automóvel que já não se faz, realizada à base de Stuntman Mikes entretanto desaparecidos. O all-power macho de William Petersen (visto a última vez a vender o coiro em csi's) e do comparsa John Pankow, a submissa carne para canhão feminina (muito levam elas neste filme, e quando não estão a levar estão a ser fodidas, e quando não estão a ser fodidas, servem como meros joguetes em jogos sujos), e entre estas regras de género bem delineadas a androgenia de William Dafoe, um artista da contrafacção, um Andy Warhol ainda mais oportunista mas sem a mesma legitimação cultural. Nesta Los Angeles desprovida de glamour e anjos, documentada por Robby Muller, só há uma certeza: não há nenhuma personagem que não esteja a fazer pela vida. Não há, sequer, lugar a uma tão cara e elogiada ambiguidade, não senhor, pois para Friedkin, neste mundo decadente, só cabem víboras. Nenhuma novidade no âmbito das transacções comerciais. Segue mais um tiro nos olhos.
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