29/04/2009

à la americaine, ou o processo de estupidificação (à século XXI: twitterização) em curso


Quando o escriba ainda frequentava as festarolas veraneantes da aldeia, um pouco de melancolia era o que sentia quando se retiravam os balões que enfeitavam as ruas ou se arrumavam as tábuas de madeira que haviam formado o palco onde dias antes grande nomes da chanson brejeira nacional haviam actuado. Tal é o travo amargo de Jour de fête, com aquele plano tristíssimo (apesar da música de brinquedo), depois de a arromba ter terminado, de um miúdo a correr atrás dos cavalinhos expostos na camioneta feirante. Tati, cineasta e antropólogo, retratista minucioso, mestre do detalhe social: os fatos domingueiros, a velhinha com a cabra na função de comadre comentadeira, o pormenor dos sapatos que apenas se usam em dia de festa e que magoam pa caralho, as aparências, a alegria sem preocupações da miudagem, etc; um sentido de comunidade e de laissez-passer em vias de extinção, pois em cada filme de Jacques parece sempre filmar-se o fim de algo. A máquina dos filmes posteriores espelhada nele próprio, em Tati-actor, um carteiro a ter de se adaptar à era da velocidade, tema para incontáveis prodígios de humor, como numa sequência nocturna repleta de indignação alimentada a conhaque. Ainda não havia Hulot (nem cachimbo, alegrem-se Goebbels da purificação), mas já havia génio.
Related Posts with Thumbnails