Supostamente para assustar, a aparição do mafarrico em The Devil Rides Out provoca uma reacção de compaixão; descamisado, magricela, mal parecendo saber onde se encontra, o sujeito parece ter feito uma viagem no tempo entre o Portugal da era Sócrates e a Inglaterra rural dos anos sessenta. As reuniões admnistrativas do BES devem, por certo, ser muito mais tenebrosas ao olhar humano. Terence Fisher, o ponta-de-lança dos estúdios Hammer durante uma vintena de anos, realizou um filme de terror onde Christopher Lee, para variar, defende o Bem e tenta destruir um culto satânico, liderado pelo melífluo Charles Gray. As virtudes desta obra encontram-se no que deveria ser um defeito, num camp delicioso que sobe aos céus da histeria cómica com o progressivo desenrolar do filme, em que, por exemplo, os tais doidivanas adoradores de satã se comportam como figurantes do Jesus Christ Superstar ou como divagadores febris num concerto de rockalhada, o que se calhar vai dar ao mesmo. Fé, cepticismo, dualidade razão vs superstição ou a subjectividade do que é o Mal são temas timidamente aflorados, estando a primazia no duelo entre duas mentes. O último acto é um triunfo de argumento, de efeitos especiais arcaicos e de Deus Nosso Senhor. Vale dez pretensiosos The Exorcist.