O fabuloso Gabriel Alves, num dos seus míticos delírios verbais, outrora classificou de arejado um determinado estádio de futebol; arejado também é El Sur, penúltima longa-metragem do bi-bi-bissexto Victor Erice, e já lá vão vinte e seis anos. Delicados movimentos de câmara, enxutos da mínima excrecência, e uma despercebida técnica de corte transmitem uma langorosa fluidez a esta obra sobre uma família na ressaca da Guerra Civil espanhola. O mistério e a elipse andam de mãos dadas em cada plano, envoltos que estão numa literal neblina que impregna uma aura de conto-de-fadas a uma narrativa em que a "magia do cinema" é um dos poucos consolos para o desgaste vivencial. Se o cinema se encontra nos limbos da vigília, então El Sur será uma das mais veementes confirmações da boutade. E, claro, é um trabalho de alguém que chegou a um ponto na carreira em que o limpar de arestas já se realiza de olhos fechados. Com a então adolescente Íciar Bollaín, que há uns anos realizou um interessante Te doy mis ojos.