Não admira que Kitano tenha em Seijun Suzuki uma das suas principais influências: montagem elíptica, burlesco desbragado, a que Suzuki acrescenta, em The Flower and the Angry Waves, um xarope de irrisório melodramatismo. É uma obra bem mais acessível do que o outro filme que vi dele, Branded To Kill, prodígio de delirante abstraccionismo. Utensílios sonoros a funcionarem como gags, o estúdio trabalhado como um recreio de escola a faíscar de peripécias infantis, e um silencioso japonês mascarado de Zorro; e depois amandam-me à cara a quincalharia das Séries Z e X. Está bem. Cheguei a um ponto de The Flowers and the Angry Waves em que já não fazia a mínima do que se estava a passar; permaneci apenas com o essencial, planos e sons provenientes de uma mente sem correntes. O homem ainda está vivo e a filmar.
Larry Clark é um hipócrita de merda, mas um hipócrita com talento (desigual). Já o estou a imaginar no plateau de Bully, observando os seus jovens actores e divagando mentalmente: Esta juventude, não há respeito, ninguém os guia...hum...que belo cuzinho...estão perdidos na sociedade...nhami, esse topzinho fica-te tão bem...exibicionistas alarves...ui, abre as pernas Bijou...moralmente abjectos....Nick, esses divinais abdominais, mamo-te todo...alguém que chame o Dr. Daniel Sampaio! É assim Bully, com o seu moralismo falso e ridículo (para dar milho aos pardais da mensagem, presume-se) a carburar em toda a sua desgraça no final do filme, cacofonia de grandes planos de pais atónitos com as acções dos seus filhos (o próprio Clark aparece por lá). Uma explicitação moral que não estava presente, por exemplo, em Kids, apesar da foda entre Jason Pierce e Chloe Sevigny já sugerir "ai a irresponsabilidade desta pequenada!". Kids, então: se aí a visceralidade da câmara móvel era perfeita para o retrato e acompanhamento do imediatismo e liberdade daquelas personagens, o mesmo registo falha em Bully, pois a maior sopa dramática e argumentativa deste precisava não só de maior classicismo como de, perdoem-me pelo que vou escrever, poesia visual; o realismo de Bully não é enérgico, mas apenas pouco imaginativo. Retém-se os minutos de pouco antes e pouco depois do clímax, conjunto de personagens inertes a repetirem frases e acções. O resto é pintelheira.