03/06/2009

não sei que título dar a isto



E agora, minhas senhores e meus senhores, os tambores que rufem, pois vai-se escrever de eróticas digressões poéticas e da expressão "o teu sexo". Comece-se por esta última: mas que putaria de afectação vem a ser esta, pá? Mas que merda é esta? Foda-se, por amor de deus. Eu pensava que estas três palavras estavam apenas destinadas a aparecer em poeminhas emo de sujeitos "sensíveis" e "auto-destruidores", desses que polulam na blogosfera e que lá por rabiscarem meia dúzia de frases inspiradas (ou copiadas) da Espanca ou do Caeiro têm melhores possibilidades de derreter o mulherio e mais facilmente arranjar pito. Mas não, um dos melhores cineastas do planeta também a emprega amiúde vezes (para ser justo, deveria culpar o Bonitzer e a Christine Laurent) em Histoire de Marie et Julien, inserida nas tais modorrentas e insuportáveis eróticas digressões (a cabo da dupla Emmanuelle Béart e Jerzy Radziwilowicz), repletas de fantasiosos arabescos da palavra, supostamente com o intuito de nos imergir na atmosfera de um amour fou e doentio. Irritou-me sobremaneira, a tal ponto que quase me faz olvidar o que de bom o filme tem (o que não invalida que seja o pior Rivette já visto). A saber: todos os minutos antes de Béart entrar definitivamente na vida de Jerzy, e todos os minutos em que este está de volta dos seus relógios. Sobretudo estes, com um minucioso trabalho sonoro a equivaler-se aos delicados gestos do actor; paciência de câmara e de relojoaria (mesmo). Quanto ao "the big picture", cago de alto, até porque quase nunca senti a dúvida sobre o que estava a ver, coisa grave num filme de silêncios e subentendidos. Mais relógios e menos sobrenaturalidades, faz favor. E, sobretudo, evitar "o teu sexo". Por amor de deus.

Não me lembro se "o meu/teu sexo" aparece em Les Anges Exterminateurs, mas se aparece, deve estar escondido nalgum momento em que uma das volumosas moças abre as coxas e começa a dar à corda. Fora com a "poesia"; na obra de Brisseau, o sexo é jogado à cara, em longas e rigorosas set-pieces de prazer feminino, com o expoente máximo naquela maravilhosa cena de restaurante, versão feminina dos encontros salutares nas mesas do Eleven. Dispensava era o moralismo inerente às aparições , caução (?) para Parce le sexe c'est immorale!, proferida pelo homem das marionetas, Frederic van den Driessche, e visualização evidente para as balelas "a humanidade está perdida" e "estamos todos no Vazio", etc. Evidentemente, Cronenberg só há um, e vive em Toronto. Não deixa de ser, no entanto, um belíssimo filme. Em vários sentidos.
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