O cinema "mais comercial" de Van Sant é, na minha opinião pessoal (Vieirita@) confragedor, no mínimo, e abaixo de cão, no máximo. Sempre que flirta com os estúdios, o cineasta de Portland deixa de ser cineasta e torna-se um Lasse Hallstrom. Há quem veja classicismo em Finding Forrester ou Good Will Hunting; eu vejo uma almofada fofinha para melhor me recostar no sofá e assim passar incólume a tanta previsível "sensibilidade poética" (ás vezes aparecem por lá uns filtros ou uns planos de nuvens, para nos lembrarmos de quem é o realizador). O Soderbergh é o oposto: sempre que brinca ao pingarelho do experimentalismo, faz cocó (a comprovar ainda hoje, com a visão do seu The Girlfriend Experience). Para Milk, para além do descomunal peso do tema, arranjaram a caução da "americana", com Capra no topo da pirâmide e tudo, e onde mais uma vez se viu classicismo de relojoaria, eu vi um cinemazinho straightzinho, um biopic em que a peça A joga muito bem com a peça B, tudo no seu devido sítio, com muita esperança e deixa cá martelar nesta mensagem até ao infinito, pois podem não perceber nas primeiras cem vezes. E até começa muito bem, com aqueles primeiros momentos de intimismo entre Penn e o James Franco, frugalidade romântica antes de se avançar furiosamente com o cilindro da propaganda. Muito correcto, com a pior banda sonora de sempre do Danny Elfmann (nem o John Williams nos seus piores momentos...), com zonas de sombra enxutadas para fora do enquadramento, há o "bem" e depois há o "mal", e nós acabamos de ver isto e batemos palmas e dizemos, pois é, pois é Gus, concordamos com tudo e vocês devem casar e tudo, mas cadé o cinema, meu maricas? E devem estar a brincar com os meus cornos quando associam palavras como "arrojado" e "corajoso" a este filme; arrojado seria se uma obra destas estreasse nos anos trinta ( ou mesmo em 1975), não neste tempo de - apesar de todas as armadas e insurgentes - , maior tolerância. Arrojado seria, talvez, incidir na vida amorosa de Milk, com a maquinaria emocional da política relegada muito, muito, mas mesmo muito lá para trás; duvidamos é que, se assim fosse, Milk teria tido sete páginas de destaque no ípsilon.