29/09/2009

(antes que seja tarde). moinhos de vento.

Os Delfins acabaram há umas semanas. Por outras palavras, um dos preferidos sacos de pancada da nova geração de comediantes portuguesa (leia-se Nogueiras, Miltons, etc) entregou a alma ao criador. Por via disto, até fui adquirindo, nos últimos anos, alguma simpatia pelo anémico grupo de Cascais, algo que pensava ter terminado no inverno de 1995, quando no chuveiro cantarolava com toda a candura o Sou como um Rio. Miguel Ângelo e seus muchachos tiveram azar em ser em da linha, alardearem uma postura clean e encherem concertos para avózinhas. Se o destino não lhes tivesse sido traiçoeiro, teriam tido o seu berço na Margem Sul, chamar-se-iam Xutos e Pontapés e seriam "malta do rock" que encheria espectáculos por todo o país para gajos e gajas do rock. E, como tal, tomariam drogas e tal, buédanice, e efectuariam solos de guitarra com a duração mínima de três meses, para gáudio febril das gajas e gajos do rock. E diriam Ché é fixi! e bora juventude, bora lutar por um mundo melhor! e seriam tão rebeldes, graças a deus. E colocariam lenços ao pescoço e teriam um símbolo que os identificasse, porque isto da malta da rockalhada é assim, tem de haver simbologia acoplada, para, no mínimo, estar garantido o sucesso anual no Avante!, por entre chouriçada e presunto dos bons. E por mais lixeira musical que tivessem produzido numa vintena de anos, estariam perdoados e, melhor ainda, institucionalizados como "malta do rock". E, aproveitando a bagagem da institucionalização, quais Hermanes Josés da música portuguesa, fariam música a lutar contra "este estado de coisas, esta pouca bergonha!", com palavras de ordem e mais solos de guitarra de três meses. E os níveis de rebeldia subiriam ainda mais, bem como a conta bancária. Seriam os Rolling Stones da lusitânia, o que não sendo de todo o modo elogioso, pois fariam nódoas líricas há apenas vinte e não trinta anos, seria sempre menos ridículo do que comparar os UHF aos The Doors, como outrora fez o saudoso Fernando Magalhães. E, muito mais importante do que isto, seriam como nós. Gente com quem nós, o povo simples e despretensioso, poderia jogar uma cartada ou uma dominada por entre meia dúzia de pires de tremoços e três grades de mines. Seria tão bonito. E os Nogueiras e os Miltons não chateariam. Apesar, ou mesmo por isso, de serem uma das piores bandas musicais do mundo.
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