08/01/2010

"Richard Po...".

Estado em que ficou um crítico literário depois de no mês passado se ter recusado colocar o último de Herberto Hélder no seu top ten.

Como descrever o "argumento" de Made in U.S.A. ( de manhã realizava-se o 2 ou 3 choses...,de tarde o Made..., e de noite canzenava-se a Karina) é tarefa inútil e digna de parvos, aconselha-se antes que este Godard seja visionado em estado de vigília após ter tomado banho e colocado o roupão, que foi exactamente o que fiz. Não tem nada a perder. Se não estiver a gostar, adormece a ver os lindos olhos da Anna. Se, pelo contrário, estiver a gostar muito, deixe-se quase adormecer enquanto os seus olhos semi-cerrados miram os belos da Karina. Seja embalado por uma das mais fantásticas bandas de som de que há memória e contemple já com a baba a cair do lábio os incontáveis gags sonoros que estropiam qualquer expectativa formal. Delicie-se-se com personagens cujos nomes vão desde Richard Nixon a Widmark, passando por [Pato] Donald a Doris Mizoguchi, sem esquecer uma "...tal rua Preminger". Aqueça-se com cenários e paletas de cores que desafiam qualquer Lichtenstein desta vida, e guarde só para si alguns aforismos fabulosos e mande para o curral alguns outros que nem para limpar o cu servem (demasiada poesia). Mais do que um filme-charneira de JLG, Made in U.S.A. é um filme-lareira ou filme-gramofone, sempre a ressoar agradavelmente nos ouvidos do espectador semi-adormecido. Uma pessoa até vai dormir muito mais tranquila. Se eu fosse editor de um jornal, daria total liberdade aos "meus críticos", à excepção de um pormenor: as exactas condições psíquicas, físicas e espaciais em que viram o filme. É importantíssimo.
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