Há uns tempos andava a dar, na tv, uma série de entrevistas de escritores e "escritores" ao "escritor" Rodrigues dos Santos. Numa das que apanhei, o "escritor" entrevistado era o tipo que tinha "escrito" o Coleccionador de Ossos, que mais tarde daria um "filme" "realizado" por um toino qualquer. Então o gajo que tinha "escrito" o Coleccionador e restante lixo tóxico "policial", afirmava, com o maior desassombro, que "eu dou o que o público quer", " um escritor que não escreve para o público é egoísta" e, paternalismo no volume 11, "mas a "literatura exótica" também tem direito a existir", por entre alegres acentos de concordância por parte do "escritor" Zé. Depois, na semana passada, li aquela entrevista de um comentador medíocre ao ipsilon, onde basicamente se dizia o mesmo (epá, por mim, era cinquenta Eastwoods em cada esquina portuguesa, de Caminha a Vila Real de Santo António), até o paternalismo magnânimo do "deixem lá os coitadinhos dos freaks fazerem os seus filmes" era o mesmo (aparte: o Pátio das Cantigas, bem como toda a "comédia" portuguesa dos anos 40, é obra para sopeiras e para homens que derretem as suas esposas à porrada). Como a primeira de várias grandezas de The Fountainhead é a possibilidade que dá a cada um de nele ver o que bem desejar, eu decidi-me a ver um ataque certeiro a estas prostitutas "artísticas", fazedores de poias para agradar ao maior número de pessoas possível, não vão elas, enquanto bebem o galão e enfardam a boca com uma bola de berlim ao pequeno-almoço, exclamar babadas que "andam a brincar cos mês impostos! Gatunes!". Adiante, que já estou a suar. Retomando o que se enunciou, a unidemensionalidade da "mensagem" do filme de Vidor (e do livro e argumento de Ayn Rand) parece-me ilusória. Proto-fascismo, desprezo pela vida em comunidade, apologia do free-enterprise capitalista? Liberdade do eu em relação ao conformimo reinante, desprezo, sim, pela uniformidade do gosto estético, um puta que pariu aos middle of the roads, que não são carne nem peixe? É à escolha do freguês. Não se vá é a pôr muita reflexão nisso, senão ainda acaba por ignorar alguns dos mais fabulosos planos de sombra e contra luz depois da Restauração de 1640 (sim, é incrível, mas já existiam filmes a preto-e-branco antes de O Laço Branco (bocejo)! Incrível!), ãngulos baixos e altos que expressam mais do que mil metáforas simbólicas, e, sobretudo, uma jorrada infernal de diálogos memoráveis, em que nenhuma letra é desprezada. E, claro, dormia na boa com o Gary Cooper. Gostaria de continuar este texto, mas acaba de começar o Stallone- Prisioneiro no Hollywood. It's not our car! It's his car!