11/04/2010

o principal problema dos "filmes de terror" acontece...



...quando, muitas vezes, sentem a necessidade de serem "filmes de terror". De figurar e explicitar ao extremo a ideia de género, não vá algum tolinho (a) perguntar, mal acabe o filme, cadé o terrore? The Descent e Wolf Creek, dois dos mais celebrados "filmes de terror" da década passada, são um perfeito exemplo da táctica (4-4-2 losango, com o médio-direito a cobrir ao centro, como tão bem faz o Ramires) da figuração. Enquanto se limitam a gerir as expectativas do espectador, são muito bons, sobretudo o segundo, com uma primeira hora de suspensão narrativa, em que as personagens são (felizmente) mal e porcamente apresentadas, com o medo a advir do enigmatismo da coisa. Mal descolam da atmosfera para mergulharem na demonstração física do que os seus autores suspeitam ser horror, tornam-se tão interessantes como os escritos do maradona (eu não percebo um caralho do que este gajo escreve. A sério.). Sim, não basta ter meia dúzia de gajas enfiadas numa gruta desconhecida e com mil obstáculos, não não, é preciso enfiar para lá umas entidades que resultaram da fusão entre um sócio benfiquista e um conselheiro nacional do PSD. E não, também não é suficiente ter três jovens à deriva pelas estradas nocturnas e diurnas de uma Austrália fantasmagórica, não senhor, pois há que acrescentar um papão misógino que certamente faria as delícias de Tarantino. A ansiedade dá lugar ao rotineiro sustinho, e é quando ele aparece. Mais das vezes, dá é para rir, sobretudo em The Descent, quando uma tímida e insegura moça se transforma, num piscar de olhos, na Ramba das grutas . Aqui há uns tempos, um benfiquista-Reisiano-anti-de Palma (ai, aquilo é tanto cinema. Até usam uma câmara, vê lá), por entre amendoins e cervejas, babava-se em justos elogios à sequência muda do UP; e acrescentava: "e depois daquilo, começa o filme". No caso de The Descent e Wolf Creek, a partir de determinada altura, desgraçadamente, o filme também começa.
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