Em 2003, houve um Real Madrid-Juventus na meia-final da Liga dos Campeões. O Real venceu o primeiro jogo, em Madrid, por 2-1. Em Turim, levaram três na bilha que até andaram de lado. Esses dois jogos, basicamente, poderiam resumir-se assim: o Real de Zidane, Figo, Ronaldo, Roberto Carlos , Raul e etc. a trocar a bola a um nível galáctico, e a Juventus de Trezeguet, Del Piero, Nedved, Conte e etc. a meter a bola na baliza. E após cada um dos jogos, a indignação com o "futebol defensivo" da Vecchia Signora, o "desrespeito" pela "poesia futebolística", a aniquilação da "arte" pelo futebol de operário fabril, e demais merdas choramingonas levadas a cabo pelos românticos do esférico. Passada a eliminação, um jornalista, não italiano mas francês, do qual o nome não me recordo, escreveu mais ou menos isto: qual é o extraodinário mérito de ganhar a equipas desorganizadas defensivamente? Até a minha avó consegue fazer bonitinhos e marcar uns golitos a quem defenda mal pa caralho. Em 2003, o Real era considerado a melhor equipa do mundo. Sete anos depois, o rival Barcelona é não só aclamado como a melhor equipa do mundo, mas, tão só, como "a melhor equipa de todos os tempos". E a "melhor equipa de todos os tempos" não conseguiu marcar dois golos a uma equipa reduzida a dez jogadores desde o meio da primeira parte. A "melhor equipa de todos os tempos", com a sua obsessão doentia em ter posse de bola em qualquer situação de jogo, desprezou o pontapé de longa distância, o que até se compreende, se pensarmos que do meio campo para a frente (aquela coisa sueca não conta) todos os jogadores do Barça têm menos de 1.40 m. A "melhor equipa de todos os tempos" e os seus fanáticos admiradores queriam é que o Mourinho dissesse assim aos seus operários: rapaziada, vamos subir no terreno, vamos avançar as linhas, e se estivermos a perder por menos de três à meia hora eu pago-vos um corneto. Era isto que os Camilos Castelos Brancos da bola queriam. E depois, algum, ainda seria capaz de dizer: o Inter foi imprudente. Já não tinha uma alegria futebolística extra-FCP desde a gloriosa final do euro-2004, também vencida por uma equipa que "desrespeitava" não só o "futebol espetáculo" como também o "público" que tinha gasto um "balúrdio" no bilhete. Juntem-se aos injustiçados dos impostos, para quem "o cinema português anda a brincar cos mês impostos. Gatunes! Ladrões!". Viva o Inter, viva o Mourinho.