24/05/2010

City On Fire.


Andava o Tarantino a aconselhar à arma o À Bout de Soufle aos seus clientes no clube de vídeo, e já o Ringo Lam colocava três sujeitos a apontar revólveres uns aos outros. Andava o Lam a descobrir a maravilhosa ocidentalização de Hong-Kong, e já fazia tijolo há quatrocentos anos o William Shakespeare. Andava o Shakespeare a escolher quais as collants que o tornavam mais elegante e a pedir que o tratassem por "Raquel", e já estava carcomida a carapaça do Aristóteles, que dois mil anos antes revoltava-se contra a paneleirice dos deux-ex-machinas e escrevia, enquanto fazia festas na perna de um menino de sete anos, vamos lá resolver esta merda em três actos. E por aí. Parece que o Tarantino não mencionou a escandalosa influência de City On Fire, obra-prima de Lam, na sua não tão obra-prima de abertura, Reservoir Dogs. Bom, a Taratino perdoa-se tudo, mesmo quando mete o Kurt Russel a ser sovado por três rebarbadas por berbigão. O furioso imediatismo de City On Fire encontra-se logo no título: tudo é explosivo, excessivo, de golpes palacianos movidos a gasolina de montagem ultra-rápida (quero um filme rápido! com explosão!-ler isto com sotaque de nigga de Queluz) e sequências de pancadaria com a indispensável musicalidade. E Chow Yun Fat, reminiscente das pantominas do Vaudeville e precursor do grande Jim Carrey, antes de se tornar na porcaria amestrada de Hollywood. E os sintetizadores dos anos oitenta. Nos EUa, pela mesma altura, o policial estava entregue ao Richard Donner e ao Mel Gibson.
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