02/05/2010

cus, caralhos, galos, mamas, cus = três quase obras-primas made in USA.




No auge do caso Padre Frederico, José Vilhena, num dos seus pasquins libertários, tentava obter resposta para uma dúvida pertinente que os oficiais orgãos de comunicação social ainda não tinham esclarecido: afinal, foi o menino que foi ao cu do padre ou foi o padre que foi ao cu do menino? São perguntas destas que fazem mover o mundo, e revelam uma genuína curiosidade pelos acontecimentos da sociedade e que ainda se inserem na nobre tradição do "whodunit" noir. Em Mysterious Skin, embora sem o humor verrinoso de Vilhena, ficamos a saber, em parte, quem foi (de forma pouca ortodoxa, diga-se) ao cu a quem, mas a curiosidade e a ausência de sermão estafado sobre tal traumático tema permanecem, sob um ângulo completamente diferente, é certo, mas permanecem. Não por acaso, as melhores sequências do filme de Araki são as que envolvem o professor e o rapazinho, recortes de um subconsciente infantil, sem julgamentos, sem apologias, sem Daniéis Sampaios e Eduardos Sás, apenas o olhar para algumas coisas do mundo, de frente, que é como muitas das vezes a câmara enquadra as personagens. O trauma está lá, sem dúvida, mas envolto por uma camada melancólica que afasta à chapada a mais óbvia das críticas. Bem haja Araki, e recordando Vilhena, pergunto desinteressadamente se nos recentes casos de pedofilia foi a padralhada que foi ao cu dos meninos ou vice-versa? Perguntar não ofende.

Cockfighter, de Monte Hellman, é um filme banal. Abençoadamente banal. Os diálogos são banais, a fotografia é banal (do banalíssimo Almendros), a moralidade é banal. Até os galos são banais. Não há a sofisticação (aka proeza técnica insípida) que me impingem dia-sim dia-não (literalmente), não existe o desejo de se fazer mais do que se sabe, não há, sequer, estória com sumo aditivo. Em contrapartida, há cheiro a terra e a sangue, um verdadeiro mestrado em 4D (mamã, hoje estreia um novo filme em 3D! Vamos ver, mamã! Vamos! Depois quando chegarmos a casa faço-te um minete, mamã! Vamos! Deixa!) Eram os gloriosos anos setenta. Agora, se me permitem, vou barrar-me com manteiga e vestir as cuecas da minha avó.

A condescendência para com certos filmes (nomeadamente "os de culto) é muito comovente. Como se se estivesse a lidar com um cão sarnento, cheio de pulgas e carraças nas orelhas, coxo, mas muito engraçado. There, there. Vejamos o caso de Faster Pussycat! Kill Kill!. Sim, é uma obra para ver com a unha comprida do dedo mindinho a tirar cera dos ouvidos, com dois pires de tremoços e três grades de mines no sofá, com arroto abundante a acompanhar e insultos às mulheres á fartazana. No caso de ser mulher, veja com um livro da Beauvoir ao seu lado e cuspa grosserias contra os pútridos machos, ao mesmo tempo que reflecte porque é que não tenho um par de tetas assim, para agradar e provocar aos machos, para quando eles me assediarem, eu ter o prazer de os mandar ir bater uma, os pervertidos?. Isto é tudo uma verdade cristalina, mas que não deve iludir o essencial: o filme de Russ Meyer é grande. Grande na magnífica e deliciosa ritualização de cada palavra e na miríade de sentidos que dela advém, grande nos contra-picados anti-verga, grande na majestosidade dos paisagísticos (só batido pelo Ford), grande nos rabos, grande nos decotes. É tudo grande. Não há condescendência que resista a esta grandeza. E ainda: o plus de ter fufas suportáveis, ao contrário das do Death Proof, em cujo filme, infelizmente, só uma metade delas teve o que mereceu.
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