24/05/2010

jogos mais ou menos inesquecíveis de certos Mundiais-4


No segundo período do 9º ano, tive sete negativas. Ou sete negas, como se dizia na altura, ou como se diz ainda hoje, não sei, acho que Richelieu ainda maquinava na última vez que falei com um puto de quinze anos. A par do Miguel Ângelo, fui o pior aluno da turma. E dos piores da escola. O Miguel Ângelo era um preto que imitava na perfeição outro imitador preto, o Jones da Police Academy. Uma vez levei-o à minha casa para que ele visse as partes de foda do Once Upon a Time in America. Em 1995 abandonou a escola e ingressou numa banda filarmónica. Vi-o dois anos depois e continuava preto. Espantoso mesmo é que no terceiro período tive zero (0) negativas, ou zero (0) negas. Avisaram-me que se não me metesse ao trabalho não haveria Mundial-94 para ninguém, nem praia para ninguém, nem mamonas da Inês para ninguém. O fim do mundo. Perder o Mundial-94! Fiz-me à vida, obviamente. Ia lá passar ao lado do Mundial dos jogos novamente a torrarem ao Sol (como no México), e do Romário, e do Kostadinov, o melhor jogador do universo em 1994. Um Mundial que começou logo muitíssimo bem antes mesmo do seu começo, com a ausência da Inglaterra, algo que provocou prejuízos avultados nas indústrias da charcutaria, do aviário, da cerveja, do protector solar e no The Sun, que viu reduzidas as suas hipóteses de exportar a página 3. Tendo sido, até hoje, o Mundial de que mais jogos vi e o a que mais atenção prestei, incluindo um Arábia Saudita-Bélgica, nada melhor do que recordar um dos que não vi mas que me fez ser mais gozado do que se o FCP tivesse perdido, nas Antas, com o Cartaxo, o Marialvas ou o Benfica. Nigéria-Bulgária, jogo inaugural de um grupo qualquer. A Bulgária tinha o Kostadinov. A Bulgária era o FCP. Andavam também por lá alguns jogadores um tanto ou quanto talentosos, como o Stoitchkov, o Balakov, o Pandev (outro), o Ivanov (o Lon Chaney da cortina de ferro) mas era o FCP. E jogavam de vermelho, verde e branco, mas era o FCP. E dias antes do jogo já andava eu, pelos corredores da escola, a falar no plural: vamos mandar a pretalhada para casa com quatro no bucho. A confiança era tanta que nem me ralei muito por não ver o jogo, que deu para aí ás duas da manhã, pois no dia a seguir tinha lugar um importantíssimo teste de Educação Visual. De manhã, enquanto enfardava Chocapics ou Estrelitas, ouvia a rádio: O 1º ministro Cavaco Silva anuncia intenção de disparar morteiros a quem, num futuro próximo, fizer algazarra na ponte 25 de Abril, Uma empresa informática norte-americana, Microsoft, apresta-se a lançar no mercado uma cena chamada sistema operativo, No mundial dos Estados Unidos, a Nigéria venceu a Bulgária por 3-0, com os golos de Amuneke, Yekini, Okocha, Amokachi, Finidi e Abacaxi a ditarem o resultado. Devo ter cuspido as estrelitas para a santa cona do assobio. Quando cheguei à escola, apalpei o terreno. Aqueles fardos de palha westernianos ondulavam ao som do assobio ventoso. Lá vinham eles. A cuspirem injúrias e gozações, os benfiquistas. Ainda procurei auxílio consolador num sportinguista, mas qual Pedro, renegou-me três vezes. Felizmente, a partir daí, o FCP só me daria alegrias, até ao jogo com a Alamenha. Quanto à Nigéria, seria afastada nos oitavos de final pelo Roberto Baggio, ou como também era conhecido na altura, "Itália".

Próximo: Brasil-EUA ou god bless the 4th of July.
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