31/05/2010

a sopa de Porumboiu.


Sons de passos, de passarinhos, de pneus no asfalto, de sopa a ser sorvida, de uma passa no cigarro. Respeitar a existência dos Sons e a existência da Vidinha de todos os dias. Depois, muito lá ao fundo, parece que existe uma coisa qualquer que envolve uma investigação policial sobre putos que consomem haxixe. Ainda lá mais para trás, na minha ordem de prioridades, há uma cena (resumida praticamente a um plano fixo de um bom quarto de hora-Porumboiu é um mestre do enquadramento) onde se expõe o poder ditactorial da Palavra sobre a realidade: é a indispensável caução, a senha de entrada para o debate e para o reconhecimento internacional, e ai de quem não a tiver, pois assim o Mourinha (o crítico de cinema preferido de quem não gosta de críticos de cinema) ficava sem massa para fazer os seus resumos sociológicos dos filmes. Politist, adjectiv é o paraíso: estabelece o mínimo dos plots (não vá alguém perder-se), e depois esburaca-o todo com silêncios, gajos encostados a postes durante cinco minutos, perseguições à Lisandro Alonso e a sopa a ser sorvida. Não me canso de falar na sopa. Realizador que dispense um minuto para filmar um tipo a comer uma gamela de sopa terá sempre o meu respeito. E também por causa de não ter o dedo leve no "extract" do Avid ou do Adobe Premiere. O filme de Porumboiu entra directamente na categoria "filmes do caralhão". Aquelas canjas de galinha de pacote do Pingo Doce não são más de todo.
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