Li o Time Machine, de H.G. Wells, num par de horas. Quando acabei, fui até à casa de banho. Ia cortar o bigode, mas reparei que as gilletes descartáveis do Pingo Doce estavam mais gastas que o cérebro da Miley Cirus. Liguei o pc. Coloquei a sacar Time Machine, a adaptação fílmica. Meia hora depois estava pronto. Uma hora e meia depois estava visto. O livro é um brilhante representante do género travestismo literário: um mcguffin (uma viagem no tempo até ao ano 800.000 e tal, data de estreia do Vale Abraão 2) como combustão para um ideal. Furiosamente político, como todos. O filme é apenas a superfície. A apropriação do mcguffin. A aventurazinha agradável. Visualiza quase na perfeição a ambiência dos decors saída da tola de Wells e acrescenta uma pitada de sal humorístico, mas nada de mais. Este nada de mais já não é mau de todo.
Outro clássico da FC dos idos de sessenta é Quatermass and the Pit. Também com origem livresca. Não li. Preferi visitar as páginas de um Herberto Helder qualquer. Quando cheguei ao segundo verso reparei que já tinham passado oito horas desde que tinha acabado de ler o primeiro. Quatermass and the Pit aborda coisas muito sérias: os primórdios da Humanidade, o metro de Londres e exércitos de escaravelhos hipnotizadores. E efeitos visuais comprados na loja dos chineses. Como não simpatizar com estes filmes que almejam debater questões ambiciosas e que depois os embrulham em pirotecnia de fazer rir um Professsor Medina Carreira? Como não gostar das expressões seríssimas das personagens quando à sua volta ocorrem explosões que parecem mais inofensivas que dois estalidos de duas bombitas de Carnaval? E, por amor de Deus, como não apreciar uma obra onde metade da população de Londres é transformada em papel vegetal? Estreasse hoje e chegaria aos Oscares. Como o District 9.