06/06/2010

jogos mais ou menos inesquecíveis de certos Mundiais-6.


Uma mera reminiscência aconselha-me a escrever que o Argentina-Roménia, dos oitavos-de-final do Mundial-94, foi o melhor jogo que já vi nas copas. Uma vez mais, já pouco ou nada me lembro dele, a não ser que o Radociou marcou um ou dois golos, que estava um dia solarengo e que estavam dois Maradonas no estádio, um na bancada e o outro no relvado, prova irrefutável do obsoletismo de uma certa teoria da natureza física, a de que o mesmo corpo sólido não pode ocupar duas áreas de espaço diferente ao mesmo tempo. O primeiro Maradona estava na bancada, a chorar como uma criança, porque dias antes do jogo tinha acusado uma coisa chamada nefredina ou quejandos, uma substância que o ajudava a não ter alucinações, como por exemplo confundir a bola de couro com uma bola de coca, como aquelas que o Ray Liotta mete no saco, no Goodfellas, mas em tamanho XXL. O segundo Maradona espalhava a "magia do futebol" por aquilo a que alguns, com pudor, chamavam "relvado", mas que na verdade eram random leaves apanhadas nas pradarias do Kansas, bastamente cortadas, ficando com apenas um metro de altura. O primeiro Maradona, depois do jogo, ou antes, já não me lembro, afirmou numa conferência de imprensa que jurava pelas alma das suas filhas que jamais tinha tomado a tal da nefredina. Pior seria se tivesse dito "que caia já um rinoceronte em cima da minha Gianina se estou a faltar à verdade!", pois neste momento o Aguero andaria amantizado com o Quique. O segundo Maradona, aos vinte e nove anos, atingia o cume da carreira, bem como a Roménia, que nem antes nem depois voltaria a fazer igual (perderia com os suecos, nos quartos, com provavelmente algum golo do Kennet Andersson, um tipo que festejava os golos com os dois indicadores a fazer de pistolas). O primeiro Maradona acabava de vez com a sua já triste vida nos relvados, enveredando por um novo desporto: tiro aos jornalistas. Tal como George Lucas continua afastado do cinema desde 1971, também o primeiro Maradona julga que ainda permanece no ambiente da bola. Em ambos os casos, alguém que tenha a piedade de elucidar os dois senhores. O segundo Maradona, até 2006 ou 2007, foi a principal referência internacional da Roménia, a par dos ciganos que andam pelo metro a vender pensos e de muletas, que mal largam quando saem da carruagem.

Próximo: Alemanha-Bulgária ou o Bela Lugosi marcou um golo.
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