Em Abril último, a selecção espanhola de futebol defrontou nos quartos de final da Champions aquela que seria, à priori, a única equipa que estaria em condições de a puder igualar na sua maior arma: infinita posse de bola. Essa equipa chamava-se Arsenal, e nesses dois jogos existiram, pelo menos, três situações em que a equipa "inglesa" conseguiu realizar três passes seguidos, para gáudio de Wenger. Três meses depois, o Barcelona ganha o campeonato do mundo da bola da mesma maneira: possuir o esférico como se o Dennis Hopper estivesse ao telefone, a 500 klms de distância, a indicar ao Del Bosque que se por acaso não se trocarem quatro mil trocas de bola consecutivas aquela explodirá em mil papelinhos. Os adversários, chamem-se Portugal, Alemanha, Holanda, ou Samoa, limitam-se a ver a banda passar e a esperar por qualquer deslize daquele meio campo de anões e de uma defesa constituída por um troglodita, um homossexual (o melhor central do mundo, o que prova que as discriminações sexuais são prejudiciais ao próprio interesse nacional), e um Casillas. E assim se constrói uma equipa que transforma todo e qualquer jogo num concerto unidimensional, de uma chatice sem fim, de um desejo de perfeição sobre-humana (aposto que se o Xavi ultrapassasse o guarda redes e ficasse com a baliza deserta, parava então a bola na linha de golo, voltava para trás e passava para o Iniesta), para deleite dos "amantes do bom futebol", dos Cruyffs, dos Valdanos (esses gurus do "bom futebol" e que já deveriam estar a planar no espaço há pelo menos quinze anos) e claro, dos adeptos do Barcelona. Quanto a mim, prefiro mil vezes um Alemanha-Uruguai, jogo de mil erros, de desfasamentos posicionais, de remates à baliza e de pessoas de carne e osso. Puta que pariu mais o Robben.