28/08/2010

"mamã, mamã, o Gódárde foi receber um prémio dos imperialistas!" "Pronto, pronto, vou chamar o doutor...".




Será pouco provável que por lá apareça, mesmo que seja encontrado (vivo). Se aparecer, aposto algumas fichas em como dirá alguma boutade para pôr a arder cu de menina de meia ás cores. O cenário mais improvável, e interessante, seria aparecer, agradecer emocionado, e, posto isto, continuar a jantar na maior das levezas imperialistas. Penso que bastaria para meter de baixa médica, durante um mês, alguns dos seus admiradores mais fanáticos (tipo os maluquinhos da Apple). E eu ficaria contente, claro. Não tenho muito que fazer.

25/08/2010

ainda Lee Marvin.


um homem desespera nas filas do Pingo Doce, sente-se feliz da vida se uma rapariga em bikini se senta a menos de dois metros de distância, tem de contar o dinheiro para o tabaco, e, sem querer e com riscos de cegueira, ainda passa por vezes o olhar pela Benfica Tv. E depois revê um filme em que entra o Lee Marvin. Como não há-de um homem se projectar naquela massa de firmeza e de seguida começar a babar? Se fosse vivo, e se entrasse para o ano que vem num do Eastwood, haveria gente mais do que respeitável a guardar lugar à entrada do cinema.

The Man Who Shot Liberty Valance.

é berdade, xim xenhor. bi ali , naquele frame , uma referênxia ao xôr Minnelli.


Como action picture, é nulo. Tosco, mal filmado, mal montado e, pior ainda, sem um pingo de sinceridade. Mas, que interessa isso? De facto, que interessa? O fã de The Expendables, atrevo-me a presumir, aprecia o filme por motivos alheios ao próprio filme. À priori. Desde que se reúna, esta maltosa pode preencher a tela a fazer bordados, a mexer ovos, a dar aulas de mecânica quântica, a discutir existencialismo, ou a cagar num pinhal da Lousã. Desde que esta gente lá esteja, who cares. O fã come, o fã gosta. O fã, se 'tiver um bocadinho mais bebido, e ainda por cima depois de um belo repasto de bacalhau à lagareiro, ainda começa a brincar às referencias cinéfilas, delirando com Fords, Walshs, Aldrichs e, se o nível de aguardente for muito alto, Hawks ou mesmo Welles. Tem desculpa, depois do almoço, esta sempre delirante tarefa de encontrar pérolas na pocilga. E nem quero pensar se a esta malta de has beens (coitadinhos, tenho tanta pena deles, então do Rourke, que aperto do coração) se juntassem o "treinador de futebol" Maradona ou o fantasma apodrecido do Lee Marvin; acho que haveria gente mais do que respeitável a babar-se para o banco da frente. É esta coisa dos velhinhos, dos contra-correntes, da nostalgia. Se fizermos a equação velhinhos+contra-correntes+nostalgia, então obtemos The Expendables. Uma espécie de Sex and The City para meninos que querem ser duros por um dia. Não vale um pintelho de qualquer Rocky, qualquer Rambo. Epá, é o pior filme do homem. Pior que o Judge Dredd. Vai-ta foder, Sly, deixa estas merdas apalhaçadas e faz Rambos até ao final da tua vida.

kino-trambolho.


Estava eu a ler a passagem de Sodoma e Gomorra, quando me veio à vontade o desejo de ver o Star Trek, o do gajo que criou aquela série (mais estimulante que 90% do cinema actual!) onde um conjunto de invertebrados perdia-se em Santa Cona da Mata Real. Em boa hora surgiu tal desejo, pois após uma boa sucessão de grandes filmes vistos e revistos, não há nada como descer à terra e reflectir: já me esquecia que a humanidade é uma coisa piolhosa. Então, despojado de preconceito, juro, comecei a ver o dito. Cedo percebi que estava na presença de uma ode à recontextualização à la siècle XXI: gajos novitos a mandarem piropos a gajas jovens de mini saia e fartas mamas. Uma atitude prudente do senhor Abrams, não vá a juventude ficar perplexa por não se reconhecer na tela, os rebeldes. Depois, é só contar os degraus da tijoleira universal da imagem e som do siècle XXI: cenas no interior de uma nave constituídas apenas e só por travellings curtíssimos, para criar "frisson"; constantes reflexos de luzinhas, para vermos para onde foi parar o dinheiro, ai que modernidade; impossibilidade permanente de se saber onde acaba o espaço de um objecto e onde se inicia o de outro (volta McTiernan, e até um Brakhage parece clássico ao pé desta mistela espacial); pancadaria sonolenta, banda-sonora filha-da-puta (assassínio dos Beastie Boys em andamento), humor abaixo de cão (Verhoeven, faz-me um filho) e o Eric Bana que vendeu a alma ao Demo. Uma caganeira de fealdades sem fim. A não ser que a) seja um Trekilândio que sabe de cor o tamanho da unha do dedo mindinho do pé esquerdo do capitone Kirk, b) escreva, num jornal diário, uma coluna de Tv e simule ser crítico de cinema às sextas, ou c) tenha o grau de exigência de um chimpanzé, e ainda d) tudo isso junto e mais alguma coisa, não estou a ver como é que algum cidadão recenseado possa apreciar esta "obra-prima absoluta" (b).


19/08/2010

Há que manter o mínimo de sanidade mental.



No Verão.

"é mais estimulante que 90% do cinema actual"-uma das frases preferidas de um crítico do Público que dá , em regra, 3 a 4 estrelas a tudo o que mexe

"É um filme sólido, com boas interpretações"* está para o jornalismo cinematográfico como "contratação de x está presa por detalhes" e "continua a lavrar um incêndio de grandes proporções" estão para o futeboleiro e incendiário, respectivamente.

*coisas tipo About Schmidt e assim.
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