18/09/2010

´kjweh.


Ritwik Ghatak. Meghe Dhaka Tara. É perfeitamente possível nunca ver isto e vir-se a ser um cineasta com admiráveis capacidades imaginativas para o melhor uso do som. Claro que é possível. Ignorância é felicidade, já escrevia o Bill Watterson.

os genuínos...


...The Expendables. A sagrada família de Mr. Browning.


ps:- e o Mickey Rourke? coitadinho, o homem "passou por tantas dificuldades na vida...".

este post é um ensaio devastador sobre a sombra do "11 de Setembro".


Sasha Grey. Note-se a referência ao "11 de Setembro".

E lá se passou mais um aniversário do "11 de Setembro". Há já algumas temporadas que não leio que "este filme tem como background o "11 de Setembro"". Que saudades desses tempos. Um gajo ia comer uma tosta mista, era uma alusão óbvia ao "11 de Setembro". Uma mulher andava descalça no quarto, era um piscar de olhos ao "11 de Setembro". Um cão mijava junto a um tronco, lá está, reflexão cultural sobre o "11 de Setembro". O Oliver Stone fazia uma caralhada qualquer com o Nicolas Cage, e lá vinham os sermões do "11 de Setembro". Se não me engano, acho que até nos clips da Madonna se encontravam subtis pontilhismos referentes ao "11 de Setembro". Tempos de bela comédia. "O 11 de Setembro".

conselhos para engatar gajas de meias ás cores: dizer-lhes ao ouvido "Pedro... Tamen".


...e quando, há uns dois, três anos, houve uma daquelas "correntes" blogueiras em que cada blogeiro escolhia os cinco ou dez livros que mais o tinham marcado ao longo da sua vidinha? e quando, antes ou depois de registados os títulos da sua glória, o autor deixava bem claro que "ah, e já me esquecia: nesta lista não entram nem o Proust, nem o Joyce, nem o Faulkner! Não entram e não entram! Toma, toma!"? Parem de rir, se faz favor. Só para avisar, aos meus futuros netos, que o vosso avô se iniciou nas leituras do À la recherche du temps perdu (sinto-me culpado por não escrever isto sem o apoio de monóculo ) no dia 16/09/2010.

05/09/2010

adorei, adorei, adorei.


Acabado de ver. Depois de algumas resistências, de muita preguiça e de uns tantos esquecimentos. É tudo muito simples: como sou um gajo que, cada vez mais, não gosta dos filmes pelos "conceitos" e pelos "temas", vou então atribuindo importância desmesurada ao real do filme. Aos materiais. Eu quero é saber o que é que o realizador fez com um certo som, uma tal música, uma tal luz ou um tal movimento de câmara. "Ideias" (no sentido geral em que, infelizmente, são entendidas) podem bem ir pó olho do cu. Documentário? Pó caralho. Ficção? Pó caralho. Muito mais importante são os momentos, é o Tony Carreira a suar sublimamente sublime, são os ombros da Sónia Bandeira, é o Joaquim carvalho a mexer no calhamaço do argumento, é o tempo que se permite para gente do nosso querido Portugal contar histórias de faca e alguidar, de aroma a chouriça assada e a vinho verde, são os gigantones em plano geral a saltar ao som dos tambores. É isso. Num filme tão apoiado nos andamentos musicais ( não-diegéticos a maior parte e ainda por cima tão "deslegitimados" ) o risco era grande, mas conseguiu-se o incrível sucesso de cada uma dessas entradas sonoras parecer sempre justa e apropriada. Um incêndio nocturno ao som de Marante: belíssimo.

1984.

O 1984 orwelliano é uma daquelas obras que, finda a sua leitura, provoca no leitor uma ligeira percepção diferente do mundo. Pelo menos durante trinta segundos. Passado esse tempo, lá se volta ao rame-rame da vidinha, colocando-nos questões tão importantes como a de saber se um editor de jornais desportivos consegue dormir em paz depois de escassas horas antes ter escolhido manchetes para os seus cagalhões de papel. O 1984 fílmico, de Michael Radford (o do filme do Neruda! Fujam!- grita a plenos pulmões um jovem trintão neo-liberal um minuto antes de escrever mais um post ou um artigo sobre o par de tetas da Scarlett Johansson ou sobre essa ciganada que foi corrida, e muito bem, pelo Dr. Sarkozy) não alcança tamanha façanha, mas it's pretty good. Concentra-se no essencial do livro (e daí que alguém possa ver aqui nada mais do que uma homenagem académica ás "ideias" base daquele) e tenta transplantar para a tela a ambiência de opressão vs liberdade (os travellings aéreos sobre o local de trabalho, os silêncios nas ruas hediondas, pernas de dois amantes entrelaçadas) , o que consegue, não sem alguns pirlimpimpins de poesia, como os planos dos sonhos verdejantes de Winston Smith, tão bem explanados nas letras do George. Richard Burton está, minha mãe, simplesmente brutal de contenção (imaginei um O'Brien muito mais vigoroso) e o John Hurt está com trinta quilos. Parece que acabou de sair do Lux. O último plano (equivalente literal à última linha livresca) merece entrar para o panteão dos "mais belos momentos de derrota na História do Cinema".

2010- mais um ano em que o cinema acabou*.

The Ghost Writer, Toy Story 3, Shutter Island, Irène, Night and Day, Lebanon, Mother, Vincere, Wendy and Lucy, 24 City, Shirin, La Danse, Tony Manero,...

Esta conversa do "cinema acabou" ou do ainda mais repugnante "o cinema 'tá cada vez pior, eu agora é mais séries" faz-me lembrar a minha avó que acha que cada Inverno é mais frio que o anterior ou que cada Verão é mais quente e abrasador que o antecessor. Pensando bem, tudo bate certo. Estas bojardas de cataclismos cinematográficos são muito comuns entre velhos marretas ou entre jovenzinhos que parecem adorar passar por velhos marretas.

"cinema acabou"- Alberto Seixas Santos and Company Limited. Todos os direitos reservados.


ponto da situação.

Nesta sociedade global e em permanentes mudanças (uma das expressões-jargão da actual sociedade global e em permanentes mudanças) há certas coisas que, ao longo dos anos, se vão alheando de modas e que continuam de pedra e cal. Tais como:

1) uma notícia televisiva sobre a "crise económica" é invariavelmente enquadrada por planos da Rua Augusta. "Chefe, temos aqui uma notícia sobre a "crise económica". "'Tá bem. Manda o Carlos pá Rua Augusta".

2) Os anúncios televisivos a um concerto do Leonard Cohen incluem, ad eternum, sempre as mesmas duas músicas: Dance me to the end of love e Hallelujah: "Amor, vamos ver o Leonard Cohen? Ele canta o Dance me... e o Hallelujah." "Vamos, querido." "Temos tanto prestígio, não temos, querida?" Temos muito, meu amor."

3) As meninas da Liga que surgem a ladear os árbitros de futebol nos jogos do campeonato são , em 98,9% dos casos, louras e mamalhudas.

4) Quando há uma notícia de grande magnitude na vida civil portuguesa, uma das tarefas-primeiras do jornalista televisivo é construir uma outra notícia onde se salienta, com voz imperial e orgulhosa, que "este caso foi acompanhado em todo o mundo, como se pode ver na primeira página do El País".

A alguma coisa nos temos de agarrar.
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