04/03/2011

...e os pássaros chilreavam, e fumava-se nos cafés, e uma pessoa acordava com as narinas inundadas de liberdade e maturidade, ahhh...

Depois de, chocado, me ter apercebido da aparente disserção do MÁRIO Jorge Torres dos quadros do ipsilon (ou foi erro de impressão?), esta Sexta-feira reservar-me-ia ainda outra desilusão cinéfila. Estava eu aos saltinhos e a babar à espera de mais um convidado a dissertar sobre o Film Socialisme (do caralhão, cujo texto sairá muito em breve- ainda esta década) e a versar sobre o tema "papá, os anos setenta no cinema amaricano foram muito bons, não foram? Não só no amaricano, filho, foi em tudo o mundo. Sério, papá? Sim. Uma pessoa tinha uma ideia num dia e no outro o filme estava pronto para estrear. E era só temas adultos. E o céu era mais bonito e respirava-se melhor. Que inveja, papá. Bem podes ter, filho. Eu e o teu tio, aos sábados, saíamos de casa de manhãzinha, íamos ver um Godard ao Quarteto, depois íamos ver o Benfica dar na pá ao Barreirense, depois , na tasca do teu avô, formávamos uma tertúlia sobre o Tarkovsky, e o Cimino, e o Coppola, e o Bogdanovich, era tão lindo, filho. Papá, não me faças chorar. Chora, filho. E depois da tertúlia íamos às meninas, e depois das meninas voltávamos ao cinema para ver um Chabrol, e mais cinema amaricano adulto dos anos setenta, ah, a liberdade. O Cinema acabou nessa altura, filho. Mas papá, o Alberto Seixas Santos diz hoje, no ipsilon, que foi só há vinte! Foi há mais, filho. Além disso, o Alberto anda confuso de datas, porque ainda há dois anos ele disse que "o cinema acabou", a propósito da morte do Bénard, que Sterling Hayden o tenha. O cinema acabou quando o o Brando é chacinado pelo merceeiro do Martin Sheen...filho, filho, não chores. Não consigo evitar, papá. Amanhã vamos ver dvds do cinema amaricano dos anos setenta, filho, que era uma coisa adulta, antes do bandido do Spielberg ter vilipendiado o templo. Papá, estou a ficar mais feliz! Óptimo, filho. Agora vamos ver se a tua mana já em maminhas. Ah, eram os anos setenta. Tão adultos." quando, mais uma vez petrificado, descobri que não havia convidado nenhum. É por estas e por outras que o cinema acabou há sessenta e cinco milhões de anos, quando um asteróide rebentou com tudo.
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