03/12/2008

gelado #151

1) À boca cheia, psicólogos, sociólogos e restante maralhal assinalam o advento de novos tempos, tempos em que o afecto, o companheirismo e a compreensão pelo outro se dilui nos compromissos e pressões profissionais. Pois eu protesto perante este pessimismo, e escrevo, igualmente à boca cheia, que este bolo-rei é certamente um dos melhores que comi nos últimos anos, eu que nem aprecio por aí além este doce natalício, talvez porque em pequeno eu tinha receio do brinde me vir parar à garganta e assim morrer sufocado, mas ainda bem que tiraram essa cena do brinde, que isto são novos tempos, tempos de saúde e de purificação, mas escrevia eu, protesto diante da visão de uma humanidade fria e Metropoliana, pois escrevo que de há uns anos para cá, mais concretamente de há uns meses para cá, tenho assistido, com cada vez maior frequência, a um notável sinal de sensibilidade e carinho por parte do Ser Humano; evidentemente, estou-me a referir ao zelo e à extremosa atenção com que o Homem e a Mulher lusitana limpam o visor dos seus telemóveis. Alguém que se dedique a olhar para esses momentos de ternura e sociabilidade para com um ente querido, ganhará proveitosas e ricas tonalidades morais. Já não se via nada assim desde o amor que se colocava naqueles bonecos electrónicos japoneses que apareceram em meados de noventa, e que pediam comida, e que cagavam e choravam. Os meus olhos marejam.

2) Só conheço uma vantagem do frio: a cerveja não precisa de ir para o frigorífico.
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