01/08/2009

Dia Monteiro-8

NÃO HÁ CARNAVAL SEM O CABAZ.

A carestia da vida, a escassez e péssima qualidade dos géneros alimentícios, a assustadora miséria dos espectáculos que habitualmente circulam por esse país fora, a todos afecta mais ou menos, não podendo, de igual modo, deixar de afectar uma revista que se quer de todos, como queremos que o Cinéfilo seja: Sinceramente vosso. Não esquecemos, nem tão cedo esqueceremos, a quadra terrível, escrita anos atrás, quando não se haviam ainda extinguido, no horizonte, os infernais clarões da guerra, pela pena inflamada de um afamado poeta do Porto: Os pobres trabalham cedo/ Cedo começam a vida/ Tudo neles é sempre cedo/ 'Té a fome e a desgraça.
Pensando em tudo isto, não podíamos ficar indiferentes ao surto folgazão da quadra, e decidimos, dentro das nossas magras especialidades, minorar as penas do alheio, oferecendo um opíparo e nutritivo cabaz com 1 bacalhau, 2 bilhetes para o Politeama, 1 litro de azeite, 1 barra de sabão amarelo, 2 bilhetes para o Teatro Nacional, 1 quilo de açucar pilé, 1 biberão para lactantes devidamente esterilizado, 1 morcela da Guarda, 1 disco da dupla Ary-Tordo, 12 bichas de rabiar, 1 dúzia de coloridas serpentinas & "confetis", 2 garrafinhas de mau cheiro e 1 raminho de violetas a quem for capaz de nos enviar o melhor e mais enfeitado "cabaz", com disparates publicados sobre espectáculos.

in Cinéfilo nº 21, 23 de Fevereiro de 1974.
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