06/06/2010

Stroheim, uma das referências para os jeunes cinéastes.



Evidente, miss Swanson. É na sequência africana que o allure e o divertimento são substituídos pela depravação (uma língua a percorrer os lábios), pelo Mal (duas órbitas negras no lugar dos olhos), pela deformação física, por putas oportunistas, pelo negócio e pela avidez, matéria mais do que familiar a quem a estava a filmar. Não admira, então, que tenha despedido o amável Stroheim quando reparou que os jogos florais de Queen Kelly não iriam continuar por muito mais tempo. Quando isso sucedeu, Erich ficou feliz da vida, porque tinha apostado 1000 dólares com um amigo em como, pela 35ª vez, iria ser despedido de um trabalho, posteriormente retalhado de acordo com os desejos da estrela, protegida pelo dinheiro do produtor e seu amante, Joseph Kennedy, pai do John. A versão Swanson é, possivelmente, uma bosta sem remédio. A versão mais próxima da pretendida por Stroheim, distribuída e estreada em 1985 pela Kino- com a ajuda de fotogramas-, é rotina na primeira parte (embora com alguns dos mais belos inserts já vistos), e um esplendor de podridão e medo na segunda. Bem feita para a Gloria, que iniciaria aqui o período descendente da sua carreira, uma óptima notícia, pois assim talvez nunca tivesse havido Sunset Boulevard para ninguém, nem Stroheim mordomo para ninguém, nem isso tudo. Pouco mudou ao fim de oitenta anos, pois as estrelas, sempre preocupadas com a sua persona filmica, já andam cagadas de medo com os efeitos que o digital poderá ter na apresentação das suas trombas, daí contratando os melhores maquilhadores e exigindo meio Walter Murch em cada pós-produção. E assim acaba a nossa lição de hoje.
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