26/10/2008

gelado #122

Para o exterior, a imagem do cinema português tem um nome: Oliveira. É o paradigma pelo qual todos os outros filmes irão ser avaliados, desculpem lá a generalização. Poderia juntar-lhe o Pedro Costa, mas ainda lhe falta a institucionalização internacional, da qual eu espero que escape. A imagem do país, então, ainda deve andar muito pela Maria do bigode a puxar o burro e pelo Joaquim bêbado a malhar na Maria e no burro. E pela pobreza, pela tristeza, e pela saudade, e pelo terço na mãozinha; ideias feitas que serão sumariamente desmentidas quando o leitor turista se deslocar à 24 de Julho, onde terá oportunidade de se deslumbrar com trintões de fitness perfeita encostados às paredes da discoteca enquanto miram a estonteante alegria e as supimpas peidas do pitedo aos saltos, que dançam ao mesmo tempo que escrevem sms's; eu não sei nada disto, apenas me contaram, que eu sou um homem de família. Quando Noite Escura estreou em França, os Cahiers não gostaram. A Positif não gostou. As publicações de prestígio desprezaram. O quê? Sexo, uma câmara em movimento, José Raposo a comer salsicha à mão, diálogos nada eruditos e ainda por cima sobrepondo-se uns aos outros? O quê? Rejeitaram a afronta à instituição cinema português. Por outro lado, publicações mais mainstream (Studio, Ciné-Live) elogiaram o filme de Canijo, moderadamente, mas elogiaram; apreciaram o desvio à instituição. No ípsilon de ontem, leio que a Hollywood Reporter classificou Entre os Dedos, de Tiago Guedes e Frederico Serra, como um fervoroso exemplo de neo-realismo português; ignorando qual a estética do filme (além do preto-e-branco), levanto a hipótese da revista em questão ter feito tal comentário por ver confirmados os seus preconceitos sobre o nosso extraodinário país. Penso que esta ambivalência forma e conteúdo é importante no modo como os outros olham para os filmes de determinado país, ainda por cima de um que seja periférico. O mainstream português não vai a lado nenhum, e não é só por ser um dos piores do mundo, embora isso seja forte razão a ter em conta; é que os lá de fora consideram as mamas da Soraia e os assaltos do Fragata uma anulação do que eles julgam ser a verdadeira identidade portuguesa, tanto sociológica como cinematográfica. É compreensível. Eu também ficaria baralhado se me deparasse com um filme iraniano em que as personagens principais fossem naves espaciais.
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