29/09/2009
Niagara.
Ah sim, o american way of life, a sua alva transparência, e depois o desespero de Joseph Cotten e o berrante vestido vermelho de Marilyn Monroe. Se o filme de Hathaway enveredasse por uma índole existencial e menos genérica, então poderíamos ter visto a contaminação da brancura do casal Jean Peters/Max Showalter pelo negrume dos despojos humanos de Cotten/Monroe, mas assim como está, está muito bem, bué da nice, sou o Zé Pedro, e aconselho os joves a não se meterem no caminho das drogues, olhem só pra mim, agora deslarguem-me, que vou executar um solo que só parará quando um cometa atingir o pelaneta. Muito bem, escrevíamos, com um argumento tortuoso em que as minhas certezas quanto ao destino das personagens foram ficando tão alicerçadas como as fundações de 25% dos prédios lisboetas. Curto, directo, e, jasus cristo, com silêncios. E Monroe de vestido vermelho, ao abandono libidinoso. Puta.
Le megliu giuventù.
Como, exceptuando o Seinfeld, as últimas séries que visionei foram aquelas reaccionárias de finais de oitenta (Alf, Knight Rider, MacGyver), decidi tomar ares com a modernidade e, não ver, mas antes criar uma própria mini-série em quatro dias, que seis horas seguidas em frente ao televisor é tarefa a desempenhar apenas por pessoas dotadas de uma descomunal força física e mental, como o Cintra Torres ou Mourinha, o Jorge. Escolha acertada, pois o folhetinesco de Le Megliu Giuventù coaduna-se muito bem com o parar e recomeçar. Inevitavelmente escolar, e daí que se foda: o essencial está em tentar tornar aquelas personagens e as suas teias de relações em sentimentos palpáveis no espectador, ao ponto de, juntamente com as mamas da Furtado, ocuparem a nossa mente no momento da dormida e do acordar. Da perda até à beatitude melancólica, é toda uma graça manipuladora que Giordana vai instarando como senhor absoluto dos seus domínios. E, cume máximo, consegue soprar a ideia de tempo a passar, mesmo que pareça que os actores envelheceram três horas em quarenta anos. Faltou a referência ao Cetim de Ouro, à Laura Pausini e a Berlusconi.
21:59 de um dia da semana passada. Sic Notícias.
Faz hoje quinze anos que estreou um grande filme. Segundo creio, não ganhou um oscar, mas foi considerado o melhor filme de sempre pelos críticos. Refiro-me ao "Os Condenados de Shawshank".
Luís Filipe Menezes, médico.
Dia Monteiro-9
OS SOBRINHOS DO ZORRO
DE MARCELLO CIORCIOLINI
in Diário de Lisboa, 13 de Março de 1970.
DE MARCELLO CIORCIOLINI
Instruções para poder ver este filme: muna-se de um cronómetro e, assim que se apagarem as luzes para o início da projecção, respire fundo, sustenha a respiração e feche os olhos. Quando já não conseguir aguentar mais, verifique o tempo que foi capaz de fazer. O filme ainda lá está.
Pode sair da sala, mesmo que não tenha batido o "record" do mundo. Se resolver ficar, bateu o record da paciência.
in Diário de Lisboa, 13 de Março de 1970.
(antes que seja tarde). moinhos de vento, parte 2.
O poço parece não ter fundo. Isto já chegou a um ponto em que não troco uma crónica benfiquista do RAP por um programa do bebé até ao avozinho destes gajos. Mas antes este erzatz desenxabido do Daily Show do que aquela "obra-prima contemporânea do humor nacional" dos Nogueiras e dos Madeiras e dos Markls. E ainda de toda e qualquer coisa que seja tocada pelo Borges da boina. Cadê o Aleixo?
(antes que seja tarde). moinhos de vento.
Os Delfins acabaram há umas semanas. Por outras palavras, um dos preferidos sacos de pancada da nova geração de comediantes portuguesa (leia-se Nogueiras, Miltons, etc) entregou a alma ao criador. Por via disto, até fui adquirindo, nos últimos anos, alguma simpatia pelo anémico grupo de Cascais, algo que pensava ter terminado no inverno de 1995, quando no chuveiro cantarolava com toda a candura o Sou como um Rio. Miguel Ângelo e seus muchachos tiveram azar em ser em da linha, alardearem uma postura clean e encherem concertos para avózinhas. Se o destino não lhes tivesse sido traiçoeiro, teriam tido o seu berço na Margem Sul, chamar-se-iam Xutos e Pontapés e seriam "malta do rock" que encheria espectáculos por todo o país para gajos e gajas do rock. E, como tal, tomariam drogas e tal, buédanice, e efectuariam solos de guitarra com a duração mínima de três meses, para gáudio febril das gajas e gajos do rock. E diriam Ché é fixi! e bora juventude, bora lutar por um mundo melhor! e seriam tão rebeldes, graças a deus. E colocariam lenços ao pescoço e teriam um símbolo que os identificasse, porque isto da malta da rockalhada é assim, tem de haver simbologia acoplada, para, no mínimo, estar garantido o sucesso anual no Avante!, por entre chouriçada e presunto dos bons. E por mais lixeira musical que tivessem produzido numa vintena de anos, estariam perdoados e, melhor ainda, institucionalizados como "malta do rock". E, aproveitando a bagagem da institucionalização, quais Hermanes Josés da música portuguesa, fariam música a lutar contra "este estado de coisas, esta pouca bergonha!", com palavras de ordem e mais solos de guitarra de três meses. E os níveis de rebeldia subiriam ainda mais, bem como a conta bancária. Seriam os Rolling Stones da lusitânia, o que não sendo de todo o modo elogioso, pois fariam nódoas líricas há apenas vinte e não trinta anos, seria sempre menos ridículo do que comparar os UHF aos The Doors, como outrora fez o saudoso Fernando Magalhães. E, muito mais importante do que isto, seriam como nós. Gente com quem nós, o povo simples e despretensioso, poderia jogar uma cartada ou uma dominada por entre meia dúzia de pires de tremoços e três grades de mines. Seria tão bonito. E os Nogueiras e os Miltons não chateariam. Apesar, ou mesmo por isso, de serem uma das piores bandas musicais do mundo.
21/09/2009
em breve: um comentário sobre os "quarenta quilómetros marcha" num filme de Raya Martin.
Não conheço nem a filmografia de Duvivier nem os contornos da sua bonita relação de amizade com os Cahiers, e portanto, abstenho-me de enviar a prestigiada revista para a santa cona do assobio. Por agora, resta-me uma obra em permanente estado de excitação, viva, com pitorescas personagens em cada esquina (quase literalmente)- um filme de local-, e o carisma iluminado de uma star (agora seria a altura indicada para escrever "disto já não há mais" ou num regime mais apocalíptico "o cinema acabou"- Alberto Seixas Santos). De facto, é temerário fazer isto, uma ignorância parva dos problemas sociais de uma grande cidade para benefício imediato do (inteligente) espectáculo; uma pouca vergonha digna dos maiores reparos. E ainda há a impureza ideológica de transformar o galã colonizador em ídolo das pobres vestimentas indígenas. À atenção de Rosenbaum. Pepe Le Moko é um filme que qualquer comentadeira quererá realizar quando for mais grande.
"Tens twitta?". "Não, mas sei ler". "Vai-ta foder!".
"Mamã, acho o novo do Bolaño apenas genial". "Filho da puta!".
piss and love.
[...] a Live Nation Merchandise acaba de comprar os direitos de produzir produtos usando o nome Woodstock (T-shirts, bonés, posters, calendários, etc.) e anunciou que espera vendas entre 50 a 100 milhões de dólares. [...].
in actual do do passado Sábado.
20/09/2009
alguém que tenha a bondade de pagar dez anos de salários ao Guarin e que depois o proíba de pisar um relvado.
Há derrotas que custam menos que outras.
Adiante. Eu pensava que o meu martírio com "magos da bola" e " jogadores de levantar estádios" tinha terminado por uns tempos com a ida daquele sujeito da trivela para Milão, onde agora vive remetido a uma merecida obscuridade nas suas catacumbas. Mas eis que, logo de seguida, lá tenho eu novamente de ser sovado com outro jogador "entusiasmante" e que é a a "alegria do povo" (benfiquista e sportinguista, suspeito). Pode ser que, quando...
1- Arranjar um cérebro.
2- Depois de arranjar um cérebro, descobrir os pontos cardeais.
3- Souber que futebol de alta competição não é a estrada de brita lá do sítio, e que brilhantes jogadas individuais apenas estão ao dispor de jogadores que não só tenham adquirido o referente no ponto um, como ainda possuam cola nos pés, aka Messi. E que depois de se falhar a mesma jogada cinquenta vezes, é pouco provável que a cinquagésima-primeira resulte.
4- Parar de choramingar e de amuar como um puto de onze anos apenas porque os outros meninos não o deixam passar.
5- Parar de protestar consecutivamente com os árbitros.
6- Aprender a ler e depois conferir no dicionário a palavra "colectivo".
...o Hulk deixe de ser tão só um "jogador entusiasmante" e "o melhor jogador do plantel do FCP" (a seguir ao Tomás Costa e ao Guarin) e se torne num jogador razoável, ao nível de um Jorge Couto. Não estou sozinho, felizmente.
17/09/2009
e aqueles rapazolas que aos quinze começam a usar t-shirts do Guevara? "Let's fuck the system! Mas primeiro deixem-me ir a casa buscar o ipod".
Alguns daqueles que acusaram Che de "não acrescentar nada" à história do argentino devem ser os mesmos que há meia dúzia de anos ficaram siderados por no Elephant não "existirem explicações". Aconselho esta gente a visitar bibliotecas, livrarias, ou, no caso de a preguiça ser muita, a ficar-se pela Internet; explicações abundantes e detalhadas é que não irão faltar a vossas mercês. Entretanto, eu já me dou por satisfeito com a ideia geral do mito no filme de Soderbergh, que volta aqui a mostrar a sua melhor qualidade, uma suavidade na montagem que faz com que duas horas e pico passem exactamente como duas horas e pico e não como dez horas e pico, como me sucedeu com outro filme recentemente adquirido na "etnia cigana". Elegância ainda mais saliente quando o realizador é um daqueles para quem as maravilhas das tecnologias e seus mais diversos usos ( onde se inclui uma câmara escangalhada ao ombro) são coisas sagradas. E todo o elenco contribui: cool, calmo e sem histerismos, mesmo num tiroteio numa rua. E, last but not the least, não se pode negligenciar qualquer filme que faça vir à tona a carcaça política do Eurico de Barros.
09/09/2009
ainda.
Nada contra (pelo contrário) "suspensões da narrativa", desde que eu não as apreenda como vaporosas, cheias de fragrância e "poesia" visual, que era o que menos gostava em Miami Vice. No novo do Mann lá voltam a estar os momentos "delicados" e "preciosos" entre Depp e a Cotillard, mas nada que esmoreça a construção de uma rara mitologia cinematográfica, tarefa a desempenhar apenas por homens com os colhões no sítio. Talvez até ainda mais do que na sequência final, é na chegada de Depp à prisão (de avião-alembrei-me do Triumph des Willens) que impressiona o gesto elegíaco do realizador, uma grandiloquência despudorada que foge do recato como eu fujo dessa irritante modazinha do poker para todas as idades. É o "anti-Pialat", que punha Van Gogh a morrer no meio de tarefas domésticas e tilintar de copos. Espero que no próximo ainda haja menos concessões ao estilo Coppola mais nova.
05/09/2009
crítica muito sucinta a alguns filmes visionados entre o final de Julho e princípios de Agosto.
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