29/07/2009

#18. com o Phantom Limb.


#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)
#22- Bijitâ Q, de Takashi Miike (2001)
#21- Los Muertos, de Lisandro Alonso (2004)
#20- There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson (2007)
#19- The New World, de Terrence Malick (2005)

tum tum...tum tum...tum tum...tum tum...tum tum...


Mas alguém conhecedor destas coisas acredita que a banda sonora do The Thing é da autoria do Morricone? Aquela batida repetitiva, do maestro italiano? A não ser que tenha acontecido essa coisa extraodinária de o Carpenter ter dito assim ao prestigiado compositor: Velho, precisamos de ti no genérico para mostramos aos críticos com valores que também nos damos com gente do sistema. Mas nem uma nota escreverás. Descansa, contudo, que metade do orçamento do filme será dedicado exclusivamente à compra do teu nome. Por outro lado, também pode ter sucedido esta hipótese: Velho, gosto de ti, com certeza, és brilhante, com certeza, mas vais compôr como se fosses o John Carpenter. Não te alarmes, que metade do orçamento para o filme será dedicado exclusivamente à compra do teu nome no genérico. Vai lá. E o Morricone lá foi. Nunca ninguém duvidou que tenha sido ele o tocador de serviço. Não desprezar a possibilidade da lobotomia.

eu gosto é da espuma no canto da boca (nos comentadoiros online).

Para quem o francês é uma língua estranha, aqui está a tradução.

o crítico musical (e cinematográfico) do futuro.


O filme tem 129 minutos. Começa com um genérico e termina com os créditos finais. Depois do genérico e antes dos créditos finais há uma história. Com actores. Os actores estão todos vestidos. A actriz principal, por vezes, usa um boné. O público na sala gostou muito da história.

26/07/2009

com o Phantom Limb. #19.


#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)
#22- Bijitâ Q, de Takashi Miike (2001)
#21- Los Muertos, de Lisandro Alonso (2004)
#20- There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson (2007)

* em associação com o ipsilon.


Depois do episódio francesinha ultra-sensível a contas com crise existencial e Michel Legrand ao piano (pó caralho, sinceramente), a magnificiência. Um outro mundo cinematográfico: rostos e os seus olhares, conversas em background, o ruído da sociedade, e o silêncio perscrutador de Corinne Marchand. Esqueça-se o que está inerente (no filme) a este contraste entre o eu e os outros na deambulação de Cléo pelas ruas e avenidas de Paris; é uma longa sequência que existe por si mesma, atingindo os limites da perfeição num dos mais simples (?) paradigmas do cinema: ter uma câmara a filmar a relação de uma personagem com o mundo que a envolve. E que nunca susbtitui nem quer acrescentar mais nada ao olhar da personagem nesse caminho. Quem me dera saber fazer isto. Mas primeiro tenho de me ajeitar com o tripé.

"deixa-me cá mexer no Final Cut...".


Ridícula gestão do timing dramático, planos em slow motion porque sim, uma aviltante aleatoriedade de montagem (não parece haver um único plano que se ligue a outro como deve ser, e isto não é avant-garde), sem tom, sem registo, sem nada, ou melhor, com tudo aquilo que eu vejo nos filmes do execrável Besson, uma Kidman que não resulta em papéis de palhaça, um Jackman que faz quase considerar brilhante o Michael Douglas de Romacing the Stone. Dos mais penosos e horríveis vinte e cinco minutos iniciais da "história do cinema" recente. Reservo-me o direito de, depois de ver os restantes, condescender com a porcaria que me fez desligar o dvd e ir para a cama. Espero que o meu investimento de dois euros nos ciganos não tenha sido um negócio à Balboa.

é preciso mais alguma coisa?


e ainda: o som da abertura de duas latas de cerveja. Não é por acaso que ambos se calam.

caga na regra.

em Setembro estao todos convidados(as) para uma grandiosa petiscada em local a designar.

1) Apesar de muito menos irritante e ligeiramente menos inútil do que o twitta, impõe-se questionar: qual o misterioso processamento neurológico que permite que duas pessoas aparentemente sãs joguem aquilo comummente conhecido como "raquetes de praia"?

2) Ficar à nora com o linguarejo da miudagem é um dos princípios da velhice. Foste completamente ownado. Quem?

3) Reparo que nos pacotes das Lays@ vêm conselhos para uma alimentação mais saudável. Depois do tabaco e das cervejas, não há de tardar o dia em que ama o próximo como te amas a ti ou make Peace, not War estejam impressas em forma de autocolante nas bombas atiradas de um canhão qualquer.

20/07/2009

"the women are the ultimate evil."


Como exercício de fragmentozinhos, já fez melhor em The Limey*. Como liberdade do vídeo digital, é mais do mesmo. Mas tem a sua coerência, não se duvide. Superfície polida e opaca a condizer com uma personagem que quase nunca se revela, mesmo nos ambientes mais íntimos com o cornudo do namorado. É uma máscara de roupas elegantes, lingerie, batôn e cabelo sedoso, pronta a servir a homens à beira da bancarrota ( há contexto financeiro e aquela relação com barbas entre o dinheiro e o sexo). E um dos planos hilariantes do ano: Sasha Grey convenientemente iluminada, para que ninguém lhe veja a cona. Há que manter uma certa dignidade.

* peço perdão pela frase escrita quatro posts mais abaixo: O Soderbergh é o oposto: sempre que brinca ao pingarelho do experimentalismo, faz cocó [...].

Nicht versöhnt oder Es hilft nur Gewalt wo Gewalt herrscht (o atum).


The scenes didn't seem to follow any kind of order. I didn't understand a thing.

São já incontáveis as tentativas de eu, na vida real, falar, andar e pegar nos objectos como as pessoas o fazem nos filmes do Bresson e nos dos destes dois que "andavam a morrer de fome na Alemanha", como disse uma vez o Monteiro. Infelizmente, as contingências da vida moderna não me permitem prosseguir com a pureza e rigor dos gestos, atropelados que são pela necessidade de me mexer, rápido e em força. Por isso, depois de apreendido o esqueleto da "história" e do estarrecimento perante uma montagem "que não segue qualquer tipo de ordem" (Miguel Bombarda, Rua Doutor Almeida Amaral-Lisboa 1169-053 LISBOA), e quando se me tornou impossível acompanhar a ininteligibilidade de umas miseráveis legendas em inglês, deixei-me ficar com esse falar, esse andar e esse pegar nos objectos, sejam uma pistola, um taco de bilhar, ou um refresco. Portanto, e tendo em conta esta adesão hipnótica a estas minudências, só posso ser levado a concluir que Nicht versohnt... se me afigurou uma obra muito mais universal, para mim, do que algumas dezenas de milhar de trambolhos de "expert storytelling". Peço mil perdões ao Senhor e à Senhora Straub por ter retirado um grande prazer deste filme. E, pelo menos até daqui a dois segundos, não será escrita a palavra "Brecht".

Dia Monteiro-7

SOBRE A CENOGRAFIA

Cenários naturais. O trabalho cenográfico deve confinar-se à organização dos espaços e à exclusão de todos os elementos que, no espaço, não tenham uma função. Aconselha-se, portanto, a maior nudez possível.
O jardim da cena 27* deve ser trabalho em pós-produção.

SOBRE A FOTOGRAFIA

35mm, cor, à excepção da cena 44* que se pretende gravada em vídeo digital.
Tanto quanto possível, tentar-se-á aproveitar a luz natural ou compensá-la com luz artificial, de molde a atenuar a violência dos contrastes. Mais do que um valor dramático, a fotografia deve ter uma função de registo.

SOBRE O SOM

Directo Dolby SR. Vozes tratadas monofonicamente, ambientes e música estereofonicamente, de molde a espacializar o corpo acústico.

* cenas não filmadas.

16/07/2009

#20. com o Phantom Limb.


#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)
#22- Bijitâ Q, de Takashi Miike (2001)
#21- Los Muertos, de Lisandro Alonso (2004)

"os paneleiros são seres humanos (como as outras pessoas)". No shit?


O cinema "mais comercial" de Van Sant é, na minha opinião pessoal (Vieirita@) confragedor, no mínimo, e abaixo de cão, no máximo. Sempre que flirta com os estúdios, o cineasta de Portland deixa de ser cineasta e torna-se um Lasse Hallstrom. Há quem veja classicismo em Finding Forrester ou Good Will Hunting; eu vejo uma almofada fofinha para melhor me recostar no sofá e assim passar incólume a tanta previsível "sensibilidade poética" (ás vezes aparecem por lá uns filtros ou uns planos de nuvens, para nos lembrarmos de quem é o realizador). O Soderbergh é o oposto: sempre que brinca ao pingarelho do experimentalismo, faz cocó (a comprovar ainda hoje, com a visão do seu The Girlfriend Experience). Para Milk, para além do descomunal peso do tema, arranjaram a caução da "americana", com Capra no topo da pirâmide e tudo, e onde mais uma vez se viu classicismo de relojoaria, eu vi um cinemazinho straightzinho, um biopic em que a peça A joga muito bem com a peça B, tudo no seu devido sítio, com muita esperança e deixa cá martelar nesta mensagem até ao infinito, pois podem não perceber nas primeiras cem vezes. E até começa muito bem, com aqueles primeiros momentos de intimismo entre Penn e o James Franco, frugalidade romântica antes de se avançar furiosamente com o cilindro da propaganda. Muito correcto, com a pior banda sonora de sempre do Danny Elfmann (nem o John Williams nos seus piores momentos...), com zonas de sombra enxutadas para fora do enquadramento, há o "bem" e depois há o "mal", e nós acabamos de ver isto e batemos palmas e dizemos, pois é, pois é Gus, concordamos com tudo e vocês devem casar e tudo, mas cadé o cinema, meu maricas? E devem estar a brincar com os meus cornos quando associam palavras como "arrojado" e "corajoso" a este filme; arrojado seria se uma obra destas estreasse nos anos trinta ( ou mesmo em 1975), não neste tempo de - apesar de todas as armadas e insurgentes - , maior tolerância. Arrojado seria, talvez, incidir na vida amorosa de Milk, com a maquinaria emocional da política relegada muito, muito, mas mesmo muito lá para trás; duvidamos é que, se assim fosse, Milk teria tido sete páginas de destaque no ípsilon.

bebedeira de alegria.

10/07/2009

Phantom Limb. 30. #21.


#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)
#22- Bijitâ Q, de Takashi Miike (2001)

Várume láufte Érr R. Amók?


Enquanto o Vinterberg andava de coeiros e o Von Trier obrigava a sua prima adolescente a foder com um porco em cima das fezes de um cavalo (apontando num caderninho, enquanto derramava uma lágrima, como é mau e injusto este mundo!), já Fassbinder e Michael Fengler (apenas este, segundo Hanna Schygulla) não utilizavam tripé, tinham um orçamento total de dez paus para a qualidade da imagem (os brancos não estouram; encadeiam a vista), e observavam como insectos a estafada classe média burguesa a caminho da mais saborosa decadência. As rotinas do trabalho, da vida em família, do sofrimento silencioso que é por vezes aturar os (as) amigos (as) do marido/mulher, aquela promoçãozinha que não chega, é isso. Nem me parece que haja qualquer tipo de julgamento destas personagens; é como se um primo chegado tivesse pegado na handheld e tivesse esgaravatado a vida do senhor R durante uns dias. Impera o sonambulismo destes zombies (julgo-os eu, ai não) e o espectador embala nesta tragicomédia e depois acontece uma coisa. E esta coisa acontece como se Fengler e Fassbinder estivessem a filmar o senhor R a ir à padaria; talvez daí o choque. E tudo o que vem de trás ganha uma nova luminosidade e vamos ter de o rever imediatamente. Enquanto o Vinterberg...

from the director of hideous movies...


Viva a sagrada Alemanha!- palavras na boca do actor de Top Gun e Cocktail. Pena o lambuzar dos violinos nos últimos minutos.

Dia Monteiro-6

[...] O João César deixou inúmeras histórias, umas curiosas, outras patéticas, umas deliciosas e outras sublimes. As histórias podem-se ouvir de várias bocas, há quem as exagere, há quem condescenda...umas são verdade e outras nem por isso. Em 1995 recebi o recado de que ele queria falar comigo, queria ajudar-me a acabar o meu Xavier. Falei com ele e combinou-se o encontro. Falhei o encontro, mas por pouco. Pouco foi o suficiente, ele já se tinha ido embora. Levei vários dias até conseguir falar com ele, quando consegui pedi-lhe imensa desculpa e tentei marcar novo encontro. Nada feito! Afavelmente, respondeu-me que se eu não chegara a horas era por não estar interessado na sua ajuda e portanto a oportunidade estava perdida. Aprendi a lição. Este senhor não era fácil, mas momento houve em que revelou uma grande ternura, fragilidade e integridade.

[...]

Manuel Mozos.

09/07/2009

habemus papa (da).


Rapaziada, estejais descansados. Os nossos tormentos em busca de uma actriz talentosa e profissional têm os seus dias contados. Vamos cavalgar a moç...a ideia do nosso amigo Soderbergh e colocar esta jovem, de nome Annette Schwarz e ex-glória da obra-prima do porno, na esteira do cinema burguês. Mas para que tudo possua um carácter fetichizante de jeune petit fille intelectual e bebedora de mijo (salvando-nos da reputação de meros manipuladores de jovens semi-inconscientes), tratemos primeiro de lhe providenciar uma lista de cinco obras-primas cinematográficas, posteriormente a utilizar quando ela falar à imprensa sobre "os filmes que ama". Um Young Mr. Lincoln ( o classicismo), uma Maya Deren (o avant-garde), um Raya Martin (atenta às novas coqueluches), um Parajanov (de leste e menos conhecido e consensual que Eisenstein), e, cereja no topo, um Godard, a referência chic por natureza. Mas não um Godard qualquer; um com a Anna Karina, mas não o Made in USA. O Band à Part parece-me o mais indicado para o dia em que ela estiver de meias ás cores e bandoulete, enquanto que o Alphaville para os dias em que estiver de óculos escuros e a mandar bafuradas para cima dos pobres jornalistas. Se quisermos ir mais longe, tratemos-lhe de falsificar um diploma de Mestrado em Filologia, um pormenor que faria a delícia de muito Tiago Ri...de muito punheteiro. Só falta o pequeno passo de a contactar: isso já é com vocês, que eu não entro nessa merda nem que me cubram de oiro (pelo menos nos próximos dois dias).

03/07/2009

Kathryn.


Enquanto essas prostitutas do cinematográfico, essas traficantes de imagens sem peso, conta e medida que dão pelo nome de manas Scott (a puta mais nova até já recebe encómios na Cinemascope. Um dia destes também espero fazer uma reavaliação do John G Avildsen e do Albert Pyun, autor do mítico Cyborg.) vão destruindo qualquer relação emocional entre aquilo que mostram e como o tentam mostrar, é preciso vir à superfície uma belíssima cineasta quase sexagenária para ensinar como se faz a essas cabras assassinas de montagem. Aparentemente, Kathryn Bigelow faz uso, em The Hurt Locker, das mesmas ferramentas que as pulhas têm passeado a seu bel-prazer nas suas fezes fílmicas: cut-and-copy, zooms que não se ensinam na escola, cinco planos em cinco escalas distintas de uma determinada personagem num dado momento, enfim, os resquícios da avacalhada imagética publicitária que as cadelas tanto ajudaram a cimentar. A diferença: o porquê, o como, e o quando de usar esta gramática, a sábia mestria de nunca soterrar a acção (e o espaço que a delimita) que se filma ao "ai uma câmara! ai tão linda! ai jesus!ai que agora vou ser tecnológico!". Jamais percepcionei qualquer excesso, qualquer mascarar de incapacidade de mise-en-scène com a tralha da caralha da câmara. E com o plus de se revelar um total conhecimento da aplicação da banda sonora e do sagrado silêncio ( a sequência no deserto é das melhores coisinhas dos últimos anos), mas a Bigelow andou a comer o Cameron e por isso saberá disso ( do silêncio, não de comer o Cameron) muito melhor do que nós, e sobretudo, muito melhor que as aldrabas inglesas. Está ali o melhor de Saving Private Simão, de Aliens, de um Aldrich, de todo e qualquer bom filme que faça da guerra procedural uma junção entre adrenalina e brutal cansaço. E sem politiques, benza-nos Deus. Para guardar ao lado do tão diferente e tão menosprezado Redacted. Grande cinema popular. Gosto muito do primeiro Alien e vejo ás escondidas o Days of Thunder.

o sabor.


Prefiro só a cena das trincadelas na maça e do bebericar das cervejas a todo o Deer Hunter. Eastwood e Bridges. Um tronco e um rio. A paz.

02/07/2009

com o Phantom Limb. E a década só termina dia 31 de Dezembro de 2010. #22.


#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)

para a câmara se movimentar livremente, construíram paredes apoiadas sobre rodas.


And something which is very astonishing with Hitchcock is that you don’t remember what the story of Notorious is, or why Janet Leigh is going to the Bates Motel. You remember one pair of spectacles or a windmill — that’s what millions and millions of people remember. If you remember Notorious, what do you remember? Wine bottles. You don’t remember Ingrid Bergman. When you remember Griffith or Welles or Eisenstein or me, you don’t remember ordinary objects. He is the only one.- São João Lucas.

Há mau cinema porque há mau público.- Moullet? Mourlet? Ribery? Estou certo de pertencer a um deles.

O cinema acabou.- Alberto Seixas Santos.




Duas frases e uma atoarda que se fundem num específico momento de Rope: o plano fixo no interior do plano em que se contempla, através da profundidade de campo, o vaivém da criada entre a sala e a cozinha. As outras personagens estão fora de campo, mas ouvem-se. A criada vai recolhendo, na sala, os objectos colocados em cima da mesa e vai depositá-los na cozinha. As palavras off-screen, vãs e banais, sublinham uma das peculiariedades do Alfredo: o estreito fio que separa a normalidade burguesa do escabroso que a rodeia. E lá acompanhamos a criada, já com suores no corpo e injúrias na alma: ó velha, ó velha, não faças isso!. Talvez dois minutos disto. A materialidade dos objectos, um público que há sessenta e um anos permitia que o cineasta mais famoso da época se deliciasse com experimentos vários, e gostaríamos de saber que realizador mainstream actual, nos meandros do género (a que Rope nao me parece pertencer), se atreveria a encher a tela com dois minutos em que não se passa nada, passando-se tudo. E sem qualquer alfinete musical, acrescente-se. Mas o público não o deixaria, acrescente-se também.

Dia Monteiro-5

[...]. O maneirismo é uma crise de forma. Sendo um formalismo, é uma crise de forma. Porque a forma é feita a partir de formas pré-existentes e, durante algum tempo, andou-se muito nisso. É muito sintomático no cinema americano, que é um cinema muito do reciclado. Recicla-se o cinema como se reciclam os sacos de plástico. Por exemplo, fazem-se "Batmans" intelectualistas, sem a ingenuidade, a espontaneidade dos primeiros. É um universitário qualquer que resolve pegar numa coisa que faz parte do imaginário popular e introduz-lhe umas notas de problemática intelectualóide. O telefilme são os códigos televisivos, de agrado imediato, porque o que interessa é fazer passar uma história. É o primado do argumento. Os resultados são sempre idênticos. Mas há distinções. Há uma estética Channel Four, até há duas: é uma coisa equívoca que parte da crítica (desta mais apressada) supôs ser o renascimento do cinema britânico, o que é absurdo. Absurdo porque uma coisa que nunca nasceu não pode nunca ter renascido. Não há cinema inglês. O Powell e o Hitchcock são excepções.

Mas define lá a estética Channel.

O que é a estética Channel Four (a melhor?). Argumento bem feito, linear, bem construído, bem fotografado, bons actores. Logo, à partida, uma coisa segura não tem risco. Tudo mais ou menos igual, com uma forte componente social, muito reaccionária. São coisas que incidem muito sobre os conflitos da sociedade inglesa. E não é por acaso que isto coincide com o thatcherismo: embora fale do desemprego e denuncie de algum modo as mazelas da sociedade britânica, funciona como sucedâneo. O operariado britânico revê-se - fica a ver-se diante do ecrã. Assiste, é espectador do simulacro do seu drama social e esquece uma coisa fundamental que é vir para a rua: as "manifes" acabaram, graças à televisão. Esta é uma das componentes, a vertente social do Channel Four. A outra é a vertente estética, que dá os Greenaway e dá os Jarmans e essa coisa toda. É a estética bicharoca. Isto o melhor dos exemplos. Depois, há as televisões europeias que não fazem tão bem. Aquilo é tudo coxo, mais ou menos, mas têm os códigos narrativos sempre idênticos: não há violência nenhuma (violência é violar códigos). Há é o espectáculo da violência, que é outra coisa. Pronto, aquilo segue tudo mais ou menos a continuidade americana adaptada ao ecrãzinho, com planos próximos. Isto são os telefilmes. Em Portugal, como temos, felizmente - repito - a televisão mais estúpida do mundo, a mais atrasada, é possível fazer umas coisas, trabalhar nos interstícios do poder, trabalhar contra os Fernando Lopes - é preciso dizê-lo - e contra os funcionários da televisão . Por exemplo, este filme ( ndr: O Último Mergulho): como já tive o prazer de ver a cara do director do Festival de Veneza, que eu sabia à partida qual era, quero ver a carinha do sr. Ricardo Nogueira e do sr. Moniz. E do sr. Lopes - porque não? O sr. Lopes, entendido de maneira dúplice. Porque há o Lopes, cineasta porreiro, amigo, etc., de palmadinhas nas costas, e há o Lopes, funcionário da televisão, que tem que dar contas aos patrões. Gostava de saber qual dos dois Lopes vou apanhar.

Ainda não falaste do audiovisual...

O audiovisual é aquela coisa que ninguém sabe o que é, nem o próprio secretário. O secretário sabe uma coisa: é que, para que aquilo funcione (sem ir buscar dinheiro do IPC), precisa de uma subvenção da ordem dos quatro milhões de contos, o que é bom para ele. Mas suponho que o Cavaco não tem essa massa. Gostaria de ter, mas não tem, nem vai ter, porque vamos todos, agora, ter que apertar um bocadinho o cinto. Como andámos, durante os últimos anos, a viver à custa dos fundos comunitários, agora é assim. Porque neste país não se cria riqueza, parasitam-se os fundos comunitários. Agora vou-me rir, mas há seguramente muita gente que não se vai rir: os mesmos, os do costume, quando tiverem que apertar o cintinho. Porque, como é evidente, isto vai recair sobre a maralha - a população portuguesa. E sempre mais sobre uns do que sobre outros. A história é conhecida. Ora o Vasconcelos - pessoa que, aliás, eu muito estimo - tem um sonho na vida: ganhar muito dinheiro. Género: "Como é que a gente vai engenhocar uma coisa para eu me vestir de alto a baixo nos Versace, nos Pollini, nos Armani?" Isto é: "Como é que vou comprar as minhas brutas fatiotas e vestir-me como nenhum italiano se veste, a peso de ouro? Como é que eu vou andar com roupinhas na ordem dos milhares de contos e não só roupinhas...?" Então, ele teve a ideia do Audiovisual. Mas como o Cavaco gosta de dar, mas não vai poder dar-lhe a massa, a pergunta que eu faço é esta: "O Vasconcelos não ganharia mais como pessoa honesta? Com um bocadinho de trabalho, não seria mais rentável?".

Excerto de uma entrevista prestada a Rodrigues da Silva, in Jornal de Letras, 22 de Setembro de 1992.
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