30/09/2008

gelado #96

- resultado injustíssimo: o Arsenal merecia ter ganho 9-0. Se é para ir ao fundo, que seja em grande estilo.

- numa altura em que se discutem os "privilégios" de alguns cidadãos lisboetas, cabe perguntar que cunhas e benesses tiveram Sapunaru, Guarin, Benitez ou Tomas Costa para se tornarem jogadores de futebol.

- questionar, igualmente, o funcionamento das instituições nacionais de saúde, que deixam à solta na praça pública criaturas despojadas de faculdades mentais, como os administradores do FCP, que andam desde há três anos, tijolo sobre tijolo, a destruir a equipa.

- se este FCP vencer, por absurdo que seja, o campeonato, o mais que Sporting e Benfica têm de fazer é fechar portas.

gelado #95

Sterling Hayden

sim, esse

The Killing

Kubrick

fabuloso

gelado #94



Ler uma obra como A Formação da Mentalidade Submissa, em complemento com outras leituras dispersas sobre a manipulação do pensamento, pode ter gravíssimas consequências para o equilíbrio social e mental do indivíduo, embora não ao ponto de se chegar a fundar um blogue sobre cinema (o sobre é muito importante). Por um lado (o esquerdo), reconforta-nos o espírito, por o autor nos (re)confirmar ideias pré-estabelecidas sobre a manhosa teia urdida pelas minorias reinantes, e o modo como propagam silenciosamente e democraticamente variadíssimas ideias sobre a realidade (mediatizada) até se tornarem irreversíveis sensos comuns e certezas para o cidadão incauto; esta deconstrucção do modus operandi capitalista deixa-nos alerta e mais preparados para compreendermos o verdadeiro alcance de certas práticas e linguagens, que à primeira vista se assemelham a um inofensivo jogo neutral. Pelo lado direito, no entanto, a paranóia e o paradoxo espreitam: a adesão total a esta descodificação do real mediático pode levar uma mente a tornar-se submissa desse próprio estado de máximo alerta, tentando obsessivamente observar o mais pequeno e ínfimo detalhe propagandístico e ideológico no mais pequeno e ínfimo acontecimento, seja o modo como o caixa da Fnac nos olha ou um piscar de olhos de um político num directo televisivo. Aplicando isto ao cinema, minha nossa senhora, Jesus Cristo, João Bénard da Costa: mais vale pararmos até ao fim das nossas vidas com a visão de filmes, senão estaremos condenados a uma incessante e infernal busca pela matriz.

Com uma valente dose de paranóia ou de cínica perspicácia (também pode ser uma bebedeira, está tudo em aberto), pode-se considerar a hipótese de o Matrix ser um produto de uma matriz que cria a magnífica ilusão de se estar a criticar e a destruir a ela própria: efeitos especiais e visuais topo de gama; escolha de um actor cool e atraente; roupas vistosas, óculos escuros e look fashion; slow-mos espectaculares e embasbacantes para a malta jovem; apologia do uso da violência como ferramenta vencedora (guns, lots of guns)*; banda sonora moderna para agradar ao público MTV (esses rebeldes); estória de amor para agradar (supostamente mais) ao público feminino, logo mais dinheiro na conta; artes marciais reminiscentes de um jogo de vídeo; e por aí. Nada que todos estes items me importem, e não será por aqui que não tenho a obra dos manos Wachowski em grande conta, mas quando ouço (como ouvi uma vez), que o Matrix é um dos maiores símbolos pela liberdade humana, então torna-se claro que esse alguém já há muito foi apanhado, ou pela droga ou pelos adversários do Roddy Piper.

* irrepetível momento Pedro Strecht.

gelado #93

A propósito de mitificações, divinizações, canonizações, de lapas e de cervejas Finkbrau à venda no Lidl por 25 cêntimos a lata:

Ao pé dele (João Bénard da Costa) somos meros mortais. Pedro Mexia (de flor na lapela), o Subdirector, em declarações à Rtp sobre os cinquenta anos da Cinemateca.

Não contem comigo.

28/09/2008

gelado #92


A palavra e a sua sonoridade é tratada, em Laura, com o cuidado de um relojoeiro. Associo a limpidez clássica deste filme à elegância e clareza das vozes, tais como a de Vincent Price e a desse senhor aí da esquerda, Clifton Webb. O seu rendilhado linguístico torna a mais cruel das observações em música para os ouvidos do espectador (desde que o cinismo seja, claro está, uma das suas faculdades). A cena em que conhece Gene Tierney é um tratado de fino recorte verbal ao serviço do mais arrogante paternalismo. É uma forma de saúde mental: contrabalançarmos os nossos "foda-ses", "caralhos" e "conas aos saltos" com jóias retóricas. Apesar de tudo, a vitória do Benfica era o que eu desejava.

gelado #91

1) Na verdade, basta ir aos filmes de Hollywwod, cheios de vilões "neoliberais", os yuppies corretores da bolsa, os inside traders, os que controlam as bolsas de mercadorias, seja do porco ou do sumo de laranja, até com Eddie Murphy, para perceber que esse período de glória do "neoliberalismo" deve ter passado ao lado da imaginação popular a não ser como prefiguração do Mal. Hollywood não fez outra coisa nestes anos de suposto apogeu "neoliberal" senão dar-nos Tio Patinhas cada vez piores. José Pacheco Pereira, Público, 20/09/2008.

Cardeal Pacheco e a candura de um cordeirinho. Relembro a José o que uma vez escreveu outro José, de nome Vilhena, o maior caricaturista nacional depois de Bordalo, director e ditador (como se auto-intitulava) de pasquins contra-informativos, tais como Gaiola Aberta, Cavaco, ou o Fala Barato: as telenovelas, com os seus vilões costumeiros na pele de ricos e poderosos, e o bem e o final feliz sempre reservado para os pobres de espírito e para os honestos, arquitectavam uma doce maneira de iludir o povo de que eles, no final, acabam sempre por pagar; na vida real, como se sabe, os primeiros comem lagosta suada ao pequeno almoço (e também papaia) e o segundo empaturra-se de latas de conserva num jantar de gala. Uma subtil forma de aplacar a ira do Zé. Os "neoliberais" de Hollywood, monstros de ambição e de ganância e que no final pagam as devidas favas (ai não que não pagam), são depois os "neoliberais "da vida real que arrecadam os seus milhõezitos como resultado de terem encenado numa tela de cinema a sua própria "malvadez". Dorme, Pereira, dorme, dorme, dorme, meu menino, dorme, dorme...

2) Quando acendo um cigarro, olham para mim como se fosse um estrangulador de bebés. Quando é que isto vai acabar? Só ainda estou neste esqueleto para chatear todos esses filhos da mãe. Frase apanhada há dias no Hollywood, proferida por um velho numa cadeira de rodas, numa obra de John Sayles da qual não sei o nome. Entretanto, este post está a ser redigido com mais um estrangulamento de um bebé. Filhos da mãe.

3) Por exemplo, o verso da canção do curso de Sistemas de Informática "Viemos aqui para vos enrabar/com muita pujança vos vamos calar" não escapou à limpeza linguística. Passou a: "Viemos aqui para vos humilhar". Público de ontem, sobre o enriquecimento da língua e a eliminação de brejeirice nas praxes universitárias. Há momentos, quer eu queira quer não, em que não consigo resistir à suave tentação de me imaginar na pele de uma das personagens mais , digamos, susceptíveis ao uso de certas ferramentas, pertencentes ao universo de Takashi Miike. Se se queixassem, eu responderia com a lei: estou a integrar-vos.

4) Hoje na praia: um casal de meia idade em actividades sexuais num buraco no interior de um muro. Uma salutar fusão do género Edgar Allan Poe com os úteis conselhos de ecitação perpetrados pela revista Happy.

27/09/2008

24/09/2008

gelado #87


Há onirismos para todos os gostos e feitios. Eu cá prefiro este, que convida à dolência e aos olhos bem...semi-cerrados. Efeitos de uma atmosfera necrófaga e austera, onde todas as personagens já parecem estar mortas diante do nosso olhar. E como eu disse uma vez a alguém que já não está entre nós, nem todos os filtros são afectação inútil : neste caso tanto serviram para embaciar actores e cenários como serviram para desfocar a minha perspectiva das coisas. Um filme de Cinema, onde até se apresenta o ponto de vista de um morto a caminho do enterro. Verdade.

gelado #86

22/09/2008

gelado #85


Always keep in mind: the vast majority of humanoids have a powerful FEAR of being exposed as morons or cowards in society. One of the many ways this can occur is by saying you didn't understand a movie. Espectador sérvio, aqui.

O blogue Paraíso do Gelado realizou na semana passada um inquérito de rua na Rua Augusta, com o intuito de saber o que pensam os portugueses do cineasta russo Andrei Tarkovsky. Leia alguns dos resultados:

Vasco Pulido Valente, crítico de costumes: O Dr. Tarkovsky foi um desses indivíduos do "meio artístico" apaparicado pela intelectualite do regime "cultural", como o foram os Fassbinders, os Warhols, os Pollocks e demais "génios", todos eles a leste de qualquer realidade, que pura e simplesmente lhes passava ao lado. Um cinema ideal para "se gostar", para adquirir muita "pose inteligente" e "culta", para se diferenciar do povo "ignorante" e tresmalhado. Esoterismo para frustrados sociais, é o que acho.

Pedro Costa, cineasta: Oponho o pior Ozu ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Ford ao melhor Tarkovsky. Oponho a pior linguiça de Portalegre ao melhor Tarkovsky. Oponho a casa de banho mais suja das Fontaínhas ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Tarkovsky ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior comentador Vasconcelos ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Tourneur ao melhor Sarkozy.

José Povinho, sindicalista: Esse shôr Tarzovski era outro que tal! Um gatuno e um desses pseudos que andou a brincar com os meus impostos, mesmo não sendo eu soviético e de nunca ter lá vivido!! Se vi algum filme dele? Não, mas isso não interessa, o que interessa é que o shôr Tarvovsky andou a brincar com os impostos de alguém!!! E já agora, quando meter isto lá no jornal, coloque muitos pontos de exclamação, que assim a insurreição e a luta do povo ainda irá parecer mais forte e destemida!!!! Aposto que você também anda a brincar com os impostos de alguém, não é seu gatuno?

Jerónimo de Sousa, político: Ouça, num momento em que o país atravessa uma grave crise económica e financeira, onde a precaridade dos mais desfavorecidos fortifica-se a cada dia que passa, onde os tubarões dos grandes grupos económicos amealham mais uns milhões para as suas vidas luxuosas, onde os poderosos escapam incólumes à justiça e o Zé vai para a cadeia por uma minúscula falcatrua, você vem-me perguntar o que acho desse burguês pró-ocidental, que desrespeitou o Partido, que fazia filmes para os endinheirados do imperialismo, um traidor, em suma? Ouça, num momento em que o país atravessa uma grave crise...

Hermínio Loureiro, dirigente desportivo: Tal como o senhor Andrei desbravou novos caminhos sensoriais e psicológicos no mundo do cinema, aliando uma enorme sensualidade imagética a uma grande exigência intelectual, também eu tento regenerar o futebol português através de uma maior transparência de processos, juntando o chamariz da publicidade imaginativa ao rigoroso controlo de questões orçamentais e de corrupção. Se há alguém que me inspirou neste meu combate, esse alguém foi o senhor Andrei.

Mário Andrade, constructor civil: Os que criticam Andrei Tarkovsky não estão preparados para a total imersão num mundo sem espartilhos de vária ordem, sejam eles narrativos, formais ou de conteúdo. Andrei Tarkovsky supera as mais banais considerações cinematográficas, desrespeita, e ainda bem!, noções estáticas como espaço e tempo, presente, passado e futuro, aqui, além ou acolá. Os que se opõem a esta cinema da liberdade são os mesmos que aplaudem as inúteis reformulações (diria antes repetições, mas não quero ser politicamente incorrecto) da Hollywood clássica, como esse tal de Eastwood a quem só falta um altar. A urgência da originalidade foi quase sempre assim tratada, nada que me espante, portanto. Só espero....espero...espere...aquela não é a Diana Chaves? Ó puta ** caralho, anda cá acima que levas com o vergamalho dourado! Cuzuda ** caralho, pá!

Manuela Ferreira Leite, monástica:

José Luis Guerra, cantor mexicano: ?

João Marques, Dc Comics Jihad: Quero é que esse tipo se vá foder com os cabrões dos críticos. Sim, estou a ser básico e injusto, mas não o estarei a ser menos que esses críticos da treta que esbofetearam, até com orgulho, imagine-se, o The Dark Knight, apenas e só o melhor filme de todos os tempos, como se pode provar por um site de cinema muito popular. Que essa escumalha fique com esses russos e iranianos e arménios, que eu apenas fico com o melhor filme de todos os tempos. Escusado será dizer quem fica a ganhar.

Paulo Bento, treinador: Na globalidade, não aprecio. O cinema que gosto está bem ancorado no solo, adaptado às vicissitudes quotidianas, sem fantasias desnecessárias e exibicionistas. Deve servir o público, e não ser um trampolim para uma maior promoção pessoal. Isso virá, com o tempo e muita tranquilidade. Mais Capra e menos Vuckevic, se me faço entender.

André Augusto, membro dos Morangos com Açucar: Epá, iá, tá-xee. Queru apenax dixer aos jovenx ~q ax drogax faxem muito mal...e...e...as drogax faxem mal...e...mano....tenx aí uma paxa? As drogax faxem muitu mal...uhhhh...k xena...é da boa...jovenx...as drogax sao max....jexux...

DEUS: Nada a declarar. Como de costume.


Há cerca de uma década, o Porto teve um guarda-redes montenegrino de nome Ivica Kralj. O Ivica era desconcertante: as suas exibições variavam entre duas defesas inacreditáveis e quatro frangos por jogo, sendo que enquanto esteve em Portugal o ratio foi de 1 para 5, tendo daí as suas performances ganho a simpática cunha de caralhadas, um pobre jogo de palavras com o seu apelido (pronuncia-se cráli). Contudo, as suas grandes defesas eram tão impossíveis e vistosas que Fernando Santos, o seu treinador da altura, afirmou que o clube não teria dificuldades em transferir o jogador: bastava compilar num dvd essas defesas e mostrá-las aos interessados, que apenas veriam o cráli fabuloso, pois o cráli dos perus tinha sido posto em off; Fernando Santos, um sucessor de De Palma na mentira das imagens. Também eu, para usufruto pessoal ou para apresentar aos interessados, poderia compilar alguns momentos prodígiosos de Zerkalo e deixar de lado a tralha (que é muita), ficando com uma obra-prima instantânea. Esse momento da foto, por exemplo, uma sequência campesina entre um homem e uma mulher, uma conversa modesta (para os standards de Tarkovsky), a câmara a enlear as personagens delicadamente, um movimento de 180º que termina com um grande plano da nuca da mulher, a fazer lembrar Vertigo ou La Jetèe; ou ainda o folhear de um livro sobre Leonardo Da Vinci, em que se sente o prazer do realizador em demorar-se no movimento das mãos e no som das folhas a virar. De facto, o que me incomoda não é não ter percebido tusto de tusto do filme, mas antes os seus abundantes e prodígiosos tour-de-forces terem-me deixado à beira da baba a escorrer pela boca e dos olhos cheios de remela. A letargia pode ser uma coisa boa, como nalguns filmes do Hou-Hsien Hsien ou no India Song, mas neste caso aconteceu a letargia da indiferença, indiferença, sublinhe-se, por imagens portentosas e, lugar-comum, associadas ao "belo". Com o decorrer do tempo, mais slow-motion menos slow-motion, mais sépia ou menos sépia, sons e imagens esvaziaram-se de sentido até não restar mais do que um resignado encolher de braços. Parece existir um desejo, a cada minuto que passa, de construir a mais rica e complexa reflexão sobre a transitoriedade da vida e o assomo da morte, do passado e da sua sombra no presente, e por aí, tudo questões de enorme premência e a representá-las imagens em movimento carregadinhas até ao tecto de simbolismo e alusões metafóricas, não vá alguém cometer o pecado de entender logo à primeira o que se está a ver. Fiquei exausto. Prefiro passar por ignorante a cobarde.

gelado #84

[Maniche] Gosta muito de cinema. Bruce Willis e Angelina Jolie são os seus actores preferidos. Maniche quando gosta gosta mesmo: um dia apaixonou-se tanto pelo filme Armageddon, de Michael Bay, que já o viu meia dúzia de vezes. DN Sport, 19/09/08.

José Brás gosta muito de comida italiana. O peixe-balão e a alheira de Mirandela são os seus ingredientes preferidos. José quando gosta gosta mesmo: um dia apaixonou-se tanto por um prato de Paelha, do chefe Raúl, que já o comeu centenas de vezes.

gelado #83

1) Não deixem que a verdade vos estrague uma boa história. William Randolph Hearst (1863-1951), aliás Charles Foster Kane.

2) A SIC apresenta o jogo entre o Leixões e o Trofense, a contar para a Taça da Liga, recorrendo a uma tonitruante voz de locução e a imagens televisivas onde só aparecem...jogadores do FCP, do Benfica e do Sporting. Deixem-me recordar umas palavras de William Randolph Hearst (1863-1951), aliás Charles Foster Kane: Não deixem que a verdade vos estrague uma boa história.

20/09/2008

gelado #80


Mary Duncan na obra-prima muda de Frank Borzage, The River. Cento e dez putas de Amesterdão (e duas do magnífico site alemão GGG).

gelado #79

1) Casamento entre gays, Obama, Palin e McCain, crise financeira, liberalismo, capitalismo, Hugo Chavez, computador Magalhães, os adolescentes e os telemóveis, pretos a ouvirem kuduro no comboio em dolby sorround, Suazo, Código do Trabalho, Lei do Divórcio, etc. O medo da desactualização e da ignorância leva-nos a mamar informação e opinião até a cabeça latejar. Temos de descarregar bitaites sobre tudo, a qualquer hora e em qualquer lugar, e isto já é uma opinião sobre a necessidade física de ter de se dar opinião, não vá acusarem-nos de estúpidos por não termos opinião. Invejo a vida do dr. Cavaco, que não precisa de jornais para nada, muito menos internet e os seus tetrabytes de pensamento. Santa modorra.

2) Por falar em mamar: haverá em Amesterdão alguma vida para além de drogas, putas e orgias? Há uns anos ainda existia o respeitável nome do Ajax, mas agora nem isso. Da capital holandesa, na 'net, nos artigos especializados dos jornais, até nas caricaturais referências à cidade nos imbecis filmes norte-americanos pejados de tarados sexuais, é só isto: putas, muitas putas, o red light district, mais putas, putas a consumir droga, droga a consumir putas, putas de costas e de frente, putas pretas, louras e morenas, putas de saltos altos, putas dominatrix, putas a levarem porrada de ingleses, putas que desabrocham. Putas. Um involuntário convite ao sentimento púdico e à abstinência, juro. Putas de merda.

18/09/2008

gelado #78


Para além de radiografar, uma vez mais, aspectos sócio-económicos da nova China (aqui é o sistema de produção de roupa, desde o anonimato do fabrico massivo nas grandes fábricas até aos artesanais alfaiates na China rural, passando pela moda personalizada de uma estilista chinesa), Jia Zhang-Ke, em Useless, vai eliminando, impercetivelmente (acordo ortográfico), a divisão documentário/ficção, até se ficar a desconhecer onde acaba uma e começa a outra. É a velha cantilena de que o melhor documentário é aquele que incorpora procedimentos ficcionais e vice-versa, coisa que requer uma enorme habilidade narrativa de que eu, neste momento, não estou em condições de explicar, nem que seja por não o saber. O resto (aliás, Resto) é o uso de langorosos travellings por entre a massa trabalhadora da cidade, ou o magnífico uso da profundidade de campo nas encardidas paisagens aldeãs, ou ainda uma banda sonora que traz sempre para primeiro plano a materialidade dos gestos e dos objectos, formas bastante simples de dar a ver e ouvir. Requer paciência, pois requer, mas está longe de qualquer vestígio de hermetismo insustentável, ao contrário do que me pareceu um filme de um falecido e célebre realizador soviético que recentemente vi e que será generosamente destruído neste blogo no prazo máximo de cem horas. Quanto a este Useless, para além dos seus específicos méritos, tem o bónus de desenjoar do espantoso e megalático (acordo ortográfico) virtuosismo técnico de Zhang Riefenstahl Yimou.

gelado #77


Muito bem observado. Poder-se-ia acrescentar que os senhores quase nunca tocam na comida (nas novelas portuguesas é raro ver alguém, sequer, a mastigar qualquer alimento, e a única coisa que lhes mete a boca cheia encontra-se em elipse), que os frondosos pequenos-almoços dos senhores decorrem sempre em franca comunidade familiar, e que as empregadinhas que lhes colocam a comida na mesa variam, geralmente, entre a atraso mental ou a simplicidade do povo humilde que serve humildemente os seus senhores que por via das regras não lhes retribuem tamanha humildade. Uma lástima. Impõe-se, também, averiguar o que acontece aos manjares dos senhores mal termina o take: Atirados ao lixo? Consumidos avidamente pelos actores, que assim livram-se dos diálogos retrógados e saciam a sua gula? Entregues aos mendigos? Uma lástima, e à atenção da Asae e de Ferran Adrià. E já estou a imaginar os argumentistas de ficção portuguesa, nos seus qualificados brainstorms, a tentarem arranjar a melhor ementa para os breakfasts dos senhores (desde que não os comam, está claro). Alguém que estoure com a TVI, com o Valdemar Duarte incluído.

gelado #76



Conselho de Veteranos e Comissão de Praxe estuda, com a minúcia dos sábios, a mais adequada e calorosa recepção ao caloiro neste ano lectivo que começa.

15/09/2008

gelado #75


A barbárie não estará tanto no gesto (um tubo de um par de metros que se introduz no nariz de um "paciente"), mas antes na completa indiferença e relaxamento de quem o faz, um médico que desempenha as suas tarefas com um cigarro no canto da boca, qual rude cowboy transplantado para a urbe. Uma acção mecânica, transformada em hábito por via do tempo, onde o humano já desapareceu e foi substituído por gado que se trata numa fria mesa de operações. A instável câmara de Frederick Wiseman acompanha este ensaio sobre a brutalidade, onde não há nem tempo nem espaço para uma musiquinha de sentimento (ignomínia). Mais um trabalho que esteve banido do circuito comercial norte-americano, devido a acusações de "invasão da privacidade dos doentes", segundo o Massachusetts Supreme Judicial Court. A violência que permanecesse entre paredes, coisa linda. Titicut Follies.

gelado #74

Peguemos em dois cineastas Humanistas, Charles Chaplin e Abbas Kiarostami, homens que na generalidade das suas obras dão enorme relevo a temas como a solidariedade, a bondade, a amizade, e demais substantivos positivos acabados em ade. Agora isto: Chaplin possuía a fama de capataz nas rodagens, perfeccionista até aos limites, indo ao ponto de despedir actrizes e de quase entrar em vias de facto com as mesmas, se as suas ordens não fossem os desejos das outras ( Paulette Goddard levou muita porrada psicológica). Kiarostami, por seu turno, em O Sabor da Cereja, para obter uma determinada expressão de um dos actores, colocou uma pistola no porta-luvas da carrinha, momentos antes de o actor o abrir e sem que soubesse de nada. Se Hitchcock e a sua crueldade na rodagem estavam em sintonia com o que estava a filmar, não deixa de ser curioso que, nos dois casos acima citados (mais o de Chaplin, claro) tenha de se utilizar o mínimo de terrores psicológicos para dar origem a algo parecido com uma elegia pelo Ser Humano. Cinquenta salazares em cada esquina, só assim se chega lá, é o que vos digo.

gelado #73

Segundo os cânones em prática, há que captar "imagens telegénicas", reter o extraodinário e não o corrente. O ordinário é a paz, o extraodinário é o escândalo e o conflito violento. Mas com a acumulação do extraodinário nos ecrãs e na imprensa (notícia é o homem morder o cão e não o cão morder o homem), a relação inverte-se: a acção violenta e o conflito tornam-se no comum e a ordem pacífica fica de fora. Parece como se "o mundo" fosse composto unicamente por actos violentos. A informação e o entretenimento, ou a "indústria" da tensão", como lhe chama Hermann Broch, difundem e impõem a validade mundial da violência. Vicente Romano, A Formação da Mentalidade Submissa, Deriva.

Agora que o nosso país, a crer na "objectividade" jornalística do último mês, está transformado num antro de perfídia e violência que transforma a Detroit de Robocop num jardim escola, torna-se (in)útil sugerir que o toque final na total propagação do medo e da inseguração no cidadão seria um "telegénico" assalto à redacção jornalística de uma televisão no momento do noticiário nocturno, com o pivot, de preferência, a servir de refém. Todos ficariam contentes: os gatunos a contracto receberiam uma boa quantia para finalmente pagarem aquelas férias na Rep. Dominicana que as suas esposas há tanto almejam; o canal televisivo rebentaria audiências, e o pivot, em particular, permaneceria como um mártir até ao final dos seus dias; e por fim, mas não menos importante, o cidadão confirmaria os seus presságios e sentimentos de caos e desordem, reclamando a presença de trinta salazares em cada esquina, uns empilhados por cima dos outros. O medo é um negócio ainda mais vantajoso do que se possa pensar. É aproveitar.

13/09/2008

gelado #72


The film can be solved using algebraic solution or factorization with x,y,z,α,γ,β, even Σ, but there is one element which is logarithmic ellipsis, so there would be one thing which is unsolvable- Takeshi Kitano

Algures a partir de Brother (2000), o estado de graça de Kitano junto da crítica caiu a pique. Aqueles que o consagraram como um dos grandes cineastas da década de noventa, tratavam agora de lhe fazer o enterro, sob acusações de "repetição", "falta de ideias", "estagnação", ou, a pior delas todas, "academismo". A moda celebratória tinha-se esboroado, e foi precisamente neste estado de coisas que Takeshi teve o seu maior êxito comercial, Zatoichi (2003). Como ressaca destes dois factores (geral insucesso crítico e uma maior exposição mediática, sobretudo nos EUA) o cineasta japonês atirou-se, sem rede e pára-quedas, à contemplação e irrisão de si próprio; o nome, Takeshis'. Ponto prévio: quem nunca tenha visto um trabalho de Kitano jamais deverá começar por aqui: há tantas referências (subtis ou mais explícitas) à sua obra anterior que o gosto pela citação reconhecida perder-se-à irremediavelmente. Alguns dos críticos em Veneza, aquando da apresentação de Takeshis', mostraram-se confusos e furiosos com o mesmo, e a minha dúvida quanto a esse estado de alma prende-se com o facto de eles ou serem absolutamente estúpidos ou extremamente idiotas, uma solução nada fácil de resolver, alguém que me passe uma calculadora. Falou-se de cubismo, de livre associação de ideias, de abstraccionismo, até, porventura, de criacionismo, mas Takeshis' é tão difícil de compreender como o foi Mulholland Drive, e a alusão a Lynch não é inocente, por maiores que sejam as diferenças entre os dois filmes e os dois homens. Basicamente (sim, de forma mesmo básica) trata-se de colocar diversas personagens em contextos absolutamente diferentes e com relações diferentes entre elas, e se era o negrume e a identidade que movia Lynch, aqui é o mais completo delírio lúdico, bem condimentado com o habitual burlesco do japonês, que trata de pôr a locomotiva em andamento. E se muito deste jiga-joga referencial e mesmo infantil resulta, é em grande parte devido ao trabalho de montagem de beat Takeshi, um mestre nessa área, ligando planos através de um som, tecendo associações entre objectos completamente diferentes, recheando o espaço e o tempo com elipses e flashbacks de segundos. Aquilo que poderia resultar num exercício de puro narcissismo, uma indulgente auto-reflexão sobre o Kitano cinematográfico e o Takeshi persona pública, torna-se numa gloriosa demonstracção de poder imaginativo (coisa perigosíssima), uma dedicatória às possibilidades das ferramentas do cinema, um sonho sonhado, como um gajo qualquer disse uma vez. Mas para quê esta esta fluidez onírica, se terminado este ciclo, voltará Takeshi Kitano alguma vez a fazer um filme de gangsters como aqueles que o tornaram famoso e rico?, como perguntou Eurico de Barros aquando do último festival de Veneza? Yakuzas, é disto que o meu povo gosta e quer (mas no Takeshis' também há muitos, ó Eurico). Leitor, pense nos seus sonhos e em matrioskas: este filme está todo aí.

gelado #71

Nos concertos da digressão, a interpretação de "Get Stupid" é acompanhada de uma projecção vídeo onde John McCain, (...), é identificado com a fome mundial e a Alemanha nazi (Barack Obama, Ghandi ou Lennon surgem do outro lado da barricada-ohhhh, so sweet). Ípsilon, 12 de Setembro de 2008.

Mais um profundo e importantíssimo gesto provocatório e polémico da senhora Ciccone. Há quem continue (sem esboçar o mínimo sorriso, note-se) a ver nestas patuscadas mediáticas um discurso e uma inscrição política na realidade. Outros, porventura mais ingénuos, já não se lembram de tanta rebeldia desde aquele dia em que uma colega do secundário colou uma pastilha no cabelo do totó da turma, ou mesmo desde o último episódio dos Morangos com Açucar. Os musicólogos do futuro recordarão, não sem estranheza, um tempo em que o essencial era a música, que se cagassem as idiossincracias sociológicas dos artistas. Ui, que iconoclastia.

o autor deste blogo gosta do álbum Ray of Light e da senhora no Dick Tracy.

09/09/2008

gelado #70


Aqueles senhores que, pedagogicamente, andam pelas discotecas e festarolas nocturnas a "oferecer" substâncias animadas aos nossos inebriantes jovens, deveriam também ter em conta outra proposta alucinogénica: os últimos dez minutos de L'Eclisse. Sugeririam aos jovens o consumo dos dez minutos antes de qualquer outro produto, pois assim o ambiente já estaria criado para o aproveitamento total das outras propriedades mágicas. Para além desta, haveriam outras vantagens, igualmente nobres, como a introdução ao mundo dopante de Michelangelo, ou a observação do melhor momento cinematográfico de Ficção Científica pré-Kubrick. Se, por outro lado, adoptarmos a atitude Laurinda Alves vs Daniel Sampaio, também não há problema: os dez minutos poderão substituir com eficácia toda a restante bugiganga aditiva, sem efeitos muito colaterais. Se não resultar, adicione-se Monica Vitti apreciando a quietude do mundo, que é remédio santo. Se isto também passar incólume, que rebentem prái.

gelado #69


O Homem que faz Eastwood parecer John McCain. E onde também se traz para campo os copinhos de leite Woo, Tarantino e Rodriguez.

gelado #68

1) A maioria dos partidários de Manuela Ferreira Leite quer-nos fazer acreditar que as suas (dela) banalidades são mais resplandecentes que as banalidades de Sócrates e companhia apenas porque ela, Manuela, dispensa a música do Vangelis, as criancinhas e o fogo de artifício nos seus incisivos discursos. Há banalidades e banalidades, portanto. É a virtude da modéstia, da humildade, do prevalecimento do verbo sobre a imagem elevada a cem: uma excelente imagem para vender e apresentar no país da casa portuguesa.

2) John MCain perseguirá os fanáticos até às suas grutas no Paquistão ou até aos portões do Inferno; Barack Obama dar-lhes-á um lugar à mesa. Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas e ex-candidato republicano às eleições presidenciais nos EUA, discursando no auto-de-fé republicano, citado pelo Público. Alguns humoristas andam a perder o seu precioso tempo; a auto-caricatura, quando inconsciente, é uma maravilha.

3) Os utensílios são de três classes: primeira, os que falam; segunda semi vocais; e terceira, os instrumentos mudos. Ao primeiro grupo pertencem os escravos, ao segundo os bois e ao terceiro as ferramentas. Varrão, Das coisas do campo, Livro I, 17, sobre os utensílios de trabalho na impoluta, excepcional e filosófica grande democracia ateniense.

07/09/2008

gelado #67


Em Strange Days, da cineasta mais bonita em actividade (mesmo que bissexta), havia um filme que, se fosse visto por um determinado grupo de pessoas, o mínimo que poderia provocar era um motim, e o máximo uma conferência de imprensa de Manuela Ferreira Leite; a prudência aconselhava a dar invisibilidade a esse tal de filme. Em 1971, Punishment Park foi proibido de estrear nos EUA, e segundo julgo, jamais o conseguiu fazer; a prudência DO PODER aconselhava a esconder a obra de Peter Watkins dos olhos do público. A imprensa mainstream que o viu arrasou com o filme, pois o povo merece ser protegido destes malévolos filmes abertamente políticos. Pseudo-documentário que encena uma realidade alternativa de 1971, em que nos EUA a segurança (por via da Guerra Fria e Vietname) foi colocada acima de todas as questões de liberdade individual, em que ter uma opinião contrária aos "interesses nacionais" dá direito a captura e julgamento a pronto, Punishment Park é uma bola de cristal que olha trinta anos no tempo, para o famigerado Patriot Act e para Guantanamo, para toda a parafernália securitária e de prevenção pós-11 de Setembro (ora aqui está um filme em que a caução do pós-11 de Setembro se poderá usar devidamente). A dicotomia e o contraste de pensamentos e atitudes entre os julgados e os juízes é tão forte e pronunciada (extrema-esquerda e extrema-direita, praticamente), sem azo a ambiguidadezinhas, que se torna inevitável escrever que foi para este tipo de filmes que se associou a catalogação de incendiário. Mini-orçamento, actores amadores, câmara de 16 mm, extremos grandes planos a coabitarem com planos gerais do imenso deserto da Califórnia, frases poderosas: a consumir com moderação, no caso de o(a) leitor(a) ser um(a) radical de esquerda desejoso(a) de fabricar uma bomba para explodir pelos ares com o BES; a ver com muita atenção, no caso de apenas gostar de cinema (coisa esquisita, como bem sabemos pela cara dos jornalistas daquele programa da Sic Notícias com o João Lopes). Foi o primeiro e único filme norte-americano de Peter Watkins, que prosseguiria a sua carreira como erva daninha, liberto de grupos e grupelhos criativos.

gelado #66

1) Uma das mais dolorosas canções de amor que a humanidade conhece, talvez apenas comparável a "I Will Always Love you" na versão de Whitney Houston. João Patrick Bateman Bonifácio, Ípsilon, 5 de Setembro de 2008, escrevendo sobre The Winner takes it all, canção de um grupo sueco.

Acrescentaria a With or Without you, versão Mariah Carey, Eternal Flames, das Bangles, e Um Bife à Portuguesa, de Nel Monteiro.

2) Jean-Marie Straub, once upon a time, quis comprar uma capa dos Cahiers du Cinema. Alguém que tenha a mesma ideia e também o faça com o Ípsilon. Depois da edição luxuosa de Sex and The City, pensava que este ano o fundo já tivesse sido atingido. Decoração de interiores, deve ser isso.

04/09/2008

gelado #65

I take a certain risk in confiding that I think I sense these surges of good will in men. If I am mistaken I will he ridiculed.

Sempre Rosseau, o velho Jean. Ainda ontem, numa tasca a ribombar de acefalia televisiva, se asseverava um lugar-comum, a corrupção é inata ao Homem (e a monogamia é contra-natura, por isso não me venham com os nefandos dos genes instáveis. É tão instável como tomar banho quando se sente porco ou de comer quando se tem fome, ou vontade de enfardar no caso do Rochemback. Malditas e pérfidas concepções religiosas e morais que nos atolaram neste ideal de a dois. Vou a Bratislava um dia destes). E a Filosofia já provou a existência do Mal, falta encontrar o Bem, segundo li não sei onde, numa data incerta em lugar desconhecido. Mas como resistir a esta bonança esperançosa de Jean, mesmo quando na rodagem de The River Even in the bad days when Hindus and Mohammedans were killing each other? The smoke that went up from the simple homes fanatics were setting on fire, did not stifle our vision, or our hope. We told each other that the hatred and the slaughter were anachronisms. Venham melhores dias, então, mesmo com chips enterrados no crânio.

E todo o artigo, escrito de forma a que até uma criança em idade pré-escolar o entenda, é magnífico e uma peça nuclear na história literária do cinema.

gelado #64

"Each film is interlocked with so many other films. You can’t get away. Whatever you do now that you think is new was already done in 1913." Martin Scorsese

Olhe que não, olhe que não, mas compreende-se o alcance, o marcar de posição, da boutade: obrigar a um maior comedimento no que toca ao uso de certas expressões, tais como "é inovador", "é refrescante", "é uma peça nuclear na história do cinema", "é orgiástico", e demais delírios cheios de ar, sobretudo quando empregues em relação a filmes tão básicos e miudinhos como os que por aí estreiam com grande fanfarra, e que seriam arcaicos já em 1913. Genial, genial, é o arroz de pato que comi há meia hora.

01/09/2008

gelado #63


Da terra: planos pormenorizados, com grande efeito lírico, de pomares sob bátegas de chuva. Tocante momento de uma obra que alterna entre o grotesco e o sublime, o panfletário e o difuso, a máquina e o ser humano, mas sempre, sempre, com a natureza como centro aglutinador (Malick já deve ter visionado mais vezes isto do que JBC aquele filme do Nick Ray) da atenção do cineasta. É quase um luxo, nos dias que por aí vão sucedendo, ver alguém (mesmo que há quase oitenta anos) perder tempo com a ondulação das searas e cavalos a comer feno. Permaneço com esses momentos, esquecendo vergonhosamente, camaradas, a grande causa da colectivização agrícola. Como lição de montagem soviética, consultem livros da especialidade. Zemlya, Aleksandr meu deus, este homem é um génio, é ainda melhor que o Pablo "ai jesus que ele está chegar, ai que ele vem aí, ai que ele está a aterrar, ai que agora é que é, ai, chegou, não me aguento" Aimar Dovzhenko.

gelado #62


Com o terminus do mês mais cruel, o início de Setembro fica marcado pela Festa em Honra da Nossa Senhora da Volta à Vida Real, a decorrer na localidade de Marmeleira. O Mordomo Festivaleiro, como de costume, é o reverendo cardeal Pacheco. A não perder, principalmente, a exposição numa garagem local de milhares de fotografias do Jardim de Santo Amaro, e de três discursos intercalados do reverendo, que incidirá impediosamente na transumância anual (sic), aka férias, dos alienados portugueses para terras allgarvias, entre outros assuntos. Tudo terminará com o açoite público de Luís Filipe Menezes no pelourinho local, evento que se espera bem preenchido de multidão.

Bom Dia!
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