Always keep in mind: the vast majority of humanoids have a powerful FEAR of being exposed as morons or cowards in society. One of the many ways this can occur is by saying you didn't understand a movie. Espectador sérvio,
aqui.
O blogue
Paraíso do Gelado realizou na semana passada um inquérito de rua na Rua Augusta, com o intuito de saber o que pensam os portugueses do cineasta russo
Andrei Tarkovsky. Leia alguns dos resultados:
Vasco Pulido Valente, crítico de costumes: O Dr. Tarkovsky foi um desses indivíduos do "meio artístico" apaparicado pela intelectualite do regime "cultural", como o foram os Fassbinders, os Warhols, os Pollocks e demais "génios", todos eles a leste de qualquer realidade, que pura e simplesmente lhes passava ao lado. Um cinema ideal para "se gostar", para adquirir muita "pose inteligente" e "culta", para se diferenciar do povo "ignorante" e tresmalhado. Esoterismo para frustrados sociais, é o que acho.
Pedro Costa, cineasta: Oponho o pior Ozu ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Ford ao melhor Tarkovsky. Oponho a pior linguiça de Portalegre ao melhor Tarkovsky. Oponho a casa de banho mais suja das Fontaínhas ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Tarkovsky ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior comentador Vasconcelos ao melhor Tarkovsky. Oponho o pior Tourneur ao melhor Sarkozy.
José Povinho, sindicalista: Esse shôr Tarzovski era outro que tal! Um gatuno e um desses pseudos que andou a brincar com os meus impostos, mesmo não sendo eu soviético e de nunca ter lá vivido!! Se vi algum filme dele? Não, mas isso não interessa, o que interessa é que o shôr Tarvovsky andou a brincar com os impostos de alguém!!! E já agora, quando meter isto lá no jornal, coloque muitos pontos de exclamação, que assim a insurreição e a luta do povo ainda irá parecer mais forte e destemida!!!! Aposto que você também anda a brincar com os impostos de alguém, não é seu gatuno?
Jerónimo de Sousa, político: Ouça, num momento em que o país atravessa uma grave crise económica e financeira, onde a precaridade dos mais desfavorecidos fortifica-se a cada dia que passa, onde os tubarões dos grandes grupos económicos amealham mais uns milhões para as suas vidas luxuosas, onde os poderosos escapam incólumes à justiça e o Zé vai para a cadeia por uma minúscula falcatrua, você vem-me perguntar o que acho desse burguês pró-ocidental, que desrespeitou o Partido, que fazia filmes para os endinheirados do imperialismo, um traidor, em suma? Ouça, num momento em que o país atravessa uma grave crise...
Hermínio Loureiro, dirigente desportivo: Tal como o senhor Andrei desbravou novos caminhos sensoriais e psicológicos no mundo do cinema, aliando uma enorme sensualidade imagética a uma grande exigência intelectual, também eu tento regenerar o futebol português através de uma maior transparência de processos, juntando o chamariz da publicidade imaginativa ao rigoroso controlo de questões orçamentais e de corrupção. Se há alguém que me inspirou neste meu combate, esse alguém foi o senhor Andrei.
Mário Andrade, constructor civil: Os que criticam Andrei Tarkovsky não estão preparados para a total imersão num mundo sem espartilhos de vária ordem, sejam eles narrativos, formais ou de conteúdo. Andrei Tarkovsky supera as mais banais considerações cinematográficas, desrespeita, e ainda bem!, noções estáticas como espaço e tempo, presente, passado e futuro, aqui, além ou acolá. Os que se opõem a esta cinema da liberdade são os mesmos que aplaudem as inúteis reformulações (diria antes repetições, mas não quero ser politicamente incorrecto) da Hollywood clássica, como esse tal de Eastwood a quem só falta um altar. A urgência da originalidade foi quase sempre assim tratada, nada que me espante, portanto. Só espero....espero...espere...aquela não é a Diana Chaves? Ó puta ** caralho, anda cá acima que levas com o vergamalho dourado! Cuzuda ** caralho, pá!
Manuela Ferreira Leite, monástica:
José Luis Guerra, cantor mexicano: ?
João Marques, Dc Comics Jihad: Quero é que esse tipo se vá foder com os cabrões dos críticos. Sim, estou a ser básico e injusto, mas não o estarei a ser menos que esses críticos da treta que esbofetearam, até com orgulho, imagine-se, o The Dark Knight, apenas e só o melhor filme de todos os tempos, como se pode provar por um site de cinema muito popular. Que essa escumalha fique com esses russos e iranianos e arménios, que eu apenas fico com o melhor filme de todos os tempos. Escusado será dizer quem fica a ganhar.
Paulo Bento, treinador: Na globalidade, não aprecio. O cinema que gosto está bem ancorado no solo, adaptado às vicissitudes quotidianas, sem fantasias desnecessárias e exibicionistas. Deve servir o público, e não ser um trampolim para uma maior promoção pessoal. Isso virá, com o tempo e muita tranquilidade. Mais Capra e menos Vuckevic, se me faço entender.
André Augusto, membro dos Morangos com Açucar: Epá, iá, tá-xee. Queru apenax dixer aos jovenx ~q ax drogax faxem muito mal...e...e...as drogax faxem mal...e...mano....tenx aí uma paxa? As drogax faxem muitu mal...uhhhh...k xena...é da boa...jovenx...as drogax sao max....jexux...
DEUS:
Nada a declarar. Como de costume.Há cerca de uma década, o Porto teve um guarda-redes montenegrino de nome Ivica Kralj. O Ivica era desconcertante: as suas exibições variavam entre duas defesas inacreditáveis e quatro frangos por jogo, sendo que enquanto esteve em Portugal o ratio foi de 1 para 5, tendo daí as suas performances ganho a simpática cunha de
caralhadas, um pobre jogo de palavras com o seu apelido (pronuncia-se
cráli). Contudo, as suas grandes defesas eram tão impossíveis e vistosas que Fernando Santos, o seu treinador da altura, afirmou que o clube não teria dificuldades em transferir o jogador: bastava compilar num dvd essas defesas e mostrá-las aos interessados, que apenas veriam o cráli fabuloso, pois o cráli dos perus tinha sido posto em off; Fernando Santos, um sucessor de De Palma na mentira das imagens. Também eu, para usufruto pessoal ou para apresentar aos
interessados, poderia compilar alguns momentos prodígiosos de
Zerkalo e deixar de lado a tralha (que é muita), ficando com uma obra-prima instantânea. Esse momento da foto, por exemplo, uma sequência campesina entre um homem e uma mulher, uma conversa modesta (para os standards de Tarkovsky), a câmara a enlear as personagens delicadamente, um movimento de 180º que termina com um grande plano da nuca da mulher, a fazer lembrar
Vertigo ou
La Jetèe; ou ainda o folhear de um livro sobre Leonardo Da Vinci, em que se sente o prazer do realizador em demorar-se no movimento das mãos e no som das folhas a virar. De facto, o que me incomoda não é não ter percebido tusto de tusto do filme, mas antes os seus abundantes e prodígiosos tour-de-forces terem-me deixado à beira da baba a escorrer pela boca e dos olhos cheios de remela. A letargia pode ser uma coisa boa, como nalguns filmes do Hou-Hsien Hsien ou no
India Song, mas neste caso aconteceu a letargia da indiferença, indiferença, sublinhe-se, por
imagens portentosas e, lugar-comum, associadas ao "belo". Com o decorrer do tempo, mais slow-motion menos slow-motion, mais sépia ou menos sépia, sons e imagens esvaziaram-se de sentido até não restar mais do que um resignado encolher de braços. Parece existir um desejo, a cada minuto que passa, de construir a mais rica e complexa reflexão sobre a transitoriedade da vida e o assomo da morte, do passado e da sua sombra no presente, e por aí, tudo questões de enorme premência e a representá-las imagens em movimento carregadinhas até ao tecto de simbolismo e alusões metafóricas, não vá alguém cometer o pecado de entender logo à primeira o que se está a ver. Fiquei exausto. Prefiro passar por ignorante a cobarde.